Um dia esse pedaço de terra se chamou Sambaqui e é o lar de 25 famílias , a maioria de pescadores, em que uma personagem se destaca: é o senhor Antonio Lopes, 72 anos, um dos mais antigos moradores da vila. Ele é conhecido pela arte de cultivar ostras, há oito anos. O segredo, segundo ele, está no processo: “Primeiro, o cultivo é no mangue e quando a ostra está grande para engorda, é colocada na água salgada, com o apoio de uma tela, onde recebe sol”, diz.
O molusco fica carnudo e ganha um preparo especial no espaço comunitário rústico da família, que tem um conceito de turismo de base comunitária. Na área, sua mulher e filhos colocam a mão na massa. O ambiente é simples e aconchegante, onde nas paredes de madeira estão estampados cartazes com campanhas de defesa da biodiversidade local. O local é envolto por um rico pomar. Lá tem de tudo um pouco: abacateiro, banana, pé de laranja, de mexerica, de carambola e de pimenta…mais uma pequena horta de temperos dentro da floresta de mata Atlântica, que atrai aves de diferentes espécies.
Mas quando a gente pensa que a história do senhor Lopes acaba por aí, atrás de uma pequena porta de madeira está uma das preciosidades de que ele não abre mão. É a antiga casa de farinha criada por seu bisavô. As peças estão praticamente intactas. “Quando temos a colheita de mandioca, volto a usar”, conta ele orgulhoso, mostrando cada detalhe.
E é nesse universo tradicional, que a tecnologia chega aos poucos, mas com alguns problemas, como ele cita. “O Governo do Estado (por meio da concessionária de energia) providenciou a instalação da placa solar, mas o equipamento não dá conta da demanda de energia para manter o refrigerador funcionando. Por causa disso continuamos a usar o gerador. Cai muito a energia. Fizemos um abaixo-assinado para os técnicos do governo fazerem a manutenção e verificarem o que está acontecendo”, conta. Ao mesmo tempo, há restrições a instalações devido à legislação ambiental.
Enquanto espera uma resolução, o cultivador de ostras vai tocando a sua vida, entre o mar e a floresta, longe do centro urbano, onde vai algumas vezes para visitar três dos seus cinco filhos. Essa comunidade isolada revela uma das características cativantes do Brasil tradicional e vive um dilema, que é descrito no trabalho de pós-graduação Argonautas do Superagui: identidade, território e conflito em um parque nacional brasileiro, de Letícia Ayumi Duarte, pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).
*Fotos: crédito: Sucena Shkrada Resk
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*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk