Dias antes de ser anunciado o nome do novo ministro da Defesa, ao apagar das luzes de 2014, já surgiam informações de que o antes governador da Bahia, Jacques Wagner, havia manifestado seu desejo de assumir essa pasta. De fato, seu nome foi confirmado na sequência e em seu discurso de posse, uma das autoridades saudadas nominalmente foi o embaixador de Israel no Brasil, Reda Mansour. Uma sinalização nada insuspeita de que o Brasil pode alçar ainda mais posições no vergonhoso ranking de um dos cinco maiores importadores de tecnologia militar israelense. E que será preciso fortalecer ainda mais a unidade entre os movimentos sociais e populares em torno da campanha BDS Brasil (de boicote, desinvestimento e sanções a Israel).
Para além de manter uma política de aproximação econômica com a potência que ocupa a Palestina, agravante é que o atual ministro é sionista. Ainda jovem, integrou a Organização da Juventude Sionista no Brasil e mantém nos dias atuais ligações estreitas com os líderes israelenses responsáveis pela limpeza étnica do povo palestino. Em uma entrevista à Federação Israelita do Rio Grande do Sul (Firs) publicada em seu site no mês de outubro de 2006, quando Wagner foi eleito governador da Bahia, ele declarou: “A partir do momento em que virei deputado federal (eleito em 1990 com três mandatos seguidos), fui membro do grupo parlamentar Brasil-Israel e, nesta condição, visitei Israel. Quando há algum problema envolvendo o Estado de Israel, o embaixador israelense no Brasil me chama para conversar. Participo sempre que a comunidade me convida para eventos importantes.” Na mesma entrevista, afirmou: “Na área de tecnologia, muitas vezes sou procurado por empresas israelenses para tentar abrir contato no Brasil. Na Bahia, por exemplo, já existem várias parcerias na questão da irrigação entre produtos baianos e empresas que desenvolvem tecnologias e sistemas de israel.”
“Bom relacionamento”
Foi assim em 2010, quando Wagner integrou a comitiva oficial junto ao presidente Lula em viagem a Israel, a qual resultou em acordo de cooperação de segurança entre a potência que ocupa a Palestina e o Brasil, sinalizando a ampliação de acordos militares que viria a seguir – processo em curso desde 2007. Conforme publicado na mídia baiana à época, “o convite para Wagner viajar com Lula se deu por conta do bom relacionamento do governador baiano com o governo israelense.[…] Wagner também promoveu um encontro entre Abbas (presidente da colaboracionista Autoridade Nacional Palestina) e a Sociedade Israelita da Bahia”.
Entre os acordos firmados em sua gestão no estado, está o termo de cooperação entre a Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) e a israelense Mekorot, responsável pelo apartheid da água na Palestina, no ano de 2013. E uma de suas últimas ações nesse sentido foi a inauguração em 28 de outubro de 2014, no Centro Industrial do Subaé, em Feira de Santana (BA), da fábrica da Tama Plastic Industry, que produz embalagens plásticas especiais para a colheita de algodão, denominadas Round Module Wrap (RMW). A companhia israelense está situada no Kibbutz Mishmar HaEmek, na região da Galileia. Historicamente, os kibbutzim serviram à colonização da Palestina. Em um site sionista, consta uma “batalha” ocorrida ali em abril de 1948, com a participação da Haganah, uma das forças paramilitares que participaram da limpeza étnica que culminou na criação do Estado de Israel em 15 de maio do mesmo ano. Ademais, empresas israelenses sustentam a política sionista desde sempre e boicotá-las é a demonstração de solidariedade ativa aos palestinos. Infelizmente, não é o que tem feito o governo brasileiro, o que inclusive vai de encontro às convenções e acordos internacionais na área de direitos humanos de que o País é signatário. Não foi ainda o que fez o sionista Wagner na Bahia e não é o que deve fazer à frente do Ministério da Defesa. Diante desse cenário, só uma resposta: fortalecer a mobilização por BDS no Brasil.