Ao se discutir este tema, também está sendo tratada a questão da justiça socioambiental. Este é um conceito que surgiu a partir da década de 60, nos EUA, pela luta da população negra pelos direitos civis. À época, esses cidadãos começaram a observar que os resíduos tóxicos provenientes principalmente da indústria química eram depositados onde viviam. No trabalho escravo ou análogo, as vítimas também são expostas a condições de insalubridade, o que faz com que essas expressões se fundam.
Apesar de formalmente o trabalho escravo ter sido abolido e criminalizado nas legislações dos países, o mesmo ocorre de forma ilegal, sob as mais diferentes roupagens, que afetam pessoas de ambos os sexos, de diferentes cores e raças ou religiões, nos mais diversos pontos do planeta. Estima-se que por volta de 27 milhões de pessoas estejam em situação análoga à escravidão, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). A maior parte estaria no setor da pecuária e nos centros urbanos, na área de confecção.
Nos EUA, palco do filme, hoje o trabalho escravo se apresenta mais na forma de escravidão sexual, como destaca a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e as penas variam de cinco anos à perpétua e alguns Estados mantêm benefícios públicos às vítimas.
No Brasil, segundo a Comissão Pastoral da Terra, em 2013 foram identificados 197 casos, sendo 128 em atividades da agropecuária e 69 em atividades não agrícolas. O Ministério do Trabalho divulga uma lista do “trabalho sujo”, com o apoio da organização não governamental (ONG) Repórter Brasil.
A América Latina de acordo com pesquisadores do tema, é uma das principais regiões de desrespeito à dignidade humana. Benjamin Skinner, jornalista e autor do livro Um crime monstruoso: face a face com a moderna escravidão relata que só no Haiti, são mais de 300 mil crianças nesta situação. Após o terremoto de 2010, essa situação discriminatória se ampliou.
Mesmo em nações que figuram no quadro de primeiro mundo, como a Suécia, não escapam desse problema, segundo a OIT. As formas de trabalho escravo encontradas, vão de trabalhos domésticos forçados a prostituição de crianças, apesar de haver uma Lei que penaliza o crime em até 10 anos de prisão, desde 2002. E no país mais populoso do mundo, a China, o trabalho forçado é mais recorrente nos setores da construção civil, da indústria de tijolos e das minas de carvão.
De uma maneira geral, a escravidão moderna é caracterizada sob a forma de servidão por dívida, de prostituição e por trabalhos forçados. Essa é uma marca da contemporaneidade que revela os gargalos do desenvolvimento e da implementação dos pilares da sustentabilidade. Um dado provocador que torna essa constatação mais óbvia é saber que uma em cada sete pessoas no mundo “sobrevive” com menos de US$ 1 por dia. Aí está outro ângulo, para discutir o conceito de trabalho escravo e a sujeição à humilhação, carência e preconceito que se associam às más condições socioambientais.
Veja também outros artigos que escrevi a respeito deste tema, no Blog Cidadãos do Mundo:
03/11/2013 – Eduardo Viola: A inércia e o conservadorismo da sociedade
28/10/2011 – Reflexões sobre segurança alimentar & meio ambiente
09/11/2011 – Refletindo sobre o Estado do Futuro/Projeto Millennium
02/02/2010 – Especial FSM 2010 – Muitos mundos possíveis
23/08/2009 – Esp-VI Fórum EA-Colocar em prática a justiça ambiental requer mais do que intenções
04/05/2008 – O glossário do trabalho
*Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk