Imagem: Stand montado por artistas de rua do COLAtivo, de Salvador, em Mercado Cultural
Defendendo uma nova ofensiva dos setores organizados da sociedade brasileira, o membro da executiva nacional da CUT (uma das organizadoras do FSB), Gilson Reis, concedeu entrevista sobre o Fórum Social Brasileiro. Para ele, este é o momento de reorganizar as forças populares, tanto para manter a luta contra o neoliberalismo que, “infelizmente ainda não foi totalmente derrotado” como para elaborar uma profunda avaliação do governo Lula.
Sobre o II FSB, Gilson explica que o comitê organizador teve a preocupação de ampliar o debate sobre os problemas do país ao âmbito internacional. Leia a seguir trechos da entrevista.
1) Qual o sentido e a importância de se realizar um FSB neste momento?
Há pouco mais de um ano, o comitê brasileiro que organizou o primeiro FSB vinha discutindo a necessidade de uma segunda versão do Fórum Social Brasileiro. Depois de um longo período de debates, as entidades que compõem o comitê brasileiro, definiram pela realização deste importante encontro popular no período de 20 a 23 de abril.
Três questões foram decisivas para deflagrar a iniciativa do 2º FSB.
Primeiro, porque o FSB é uma articulação do Fórum Social Mundial, que em sua carta de princípios luta contra a globalização neoliberal, que arrasou toda a região sul americana. O neoliberalismo não foi totalmente derrotado, e ainda hoje mantém certa hegemonia na região, portanto é preciso manter a mobilização e luta dos movimentos sociais contra a rearticulação e aplicação das teorias e práticas neoliberais. Segundo, porque existe uma necessidade urgente de reaglutinar o movimento popular para um balanço mais profundo da experiência brasileira, ocorrida a partir da eleição do presidente Lula.
Um terceiro ponto é a necessidade de realizarmos uma nova repactuação programática, consolidando um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil, que rompa definitivamente com a ortodoxia econômica, visando a consolidação da transição política em curso. O movimento popular e as forças progressistas e nacionalistas do país não podem permitir o retorno da articulação neoliberal tucano/pefelistas no comando da nação.
Qual a sua avaliação sobre a resistência dos movimentos sociais ao neoliberalismo. E como você avalia a idéia do “Novo Regionalismo”.
O movimento social continua a resistir à aplicação do projeto neoliberal, entretanto, resistir somente não tem ajudado a romper com as profundas amarras que o modelo alcançou no país e na região. Penso que será necessário uma nova ofensiva dos setores organizados da sociedade brasileira, saindo da situação defensiva para a ofensiva ativa.
Algumas experiências de rearticulações dos movimentos sociais estão sendo muito positivas. Cito como exemplos a CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais) e a Assembléia Popular. Devemos neste II FSB construir a unidade de luta e ação a partir destas articulações, para darmos um salto de qualidade em nossas lutas e quebrar definitivamente as correntes que ainda defendem o neoliberalismo no país.
Quanto ao termo “Novo Regionalismo” trata-se de uma embalagem nova para vender o velho neoliberalismo, porém com uma roupagem “social”. As chamadas “focalização” e “eficácia na aplicação de políticas compensatórias” são evocadas apenas para buscar justificativas junto à opinião publica, hoje amplamente opositora ao neoliberalismo. Com esse discurso, eles querem, na pratica, é dar continuidade às privatizações de setores que ainda permanecem nas mãos do Estado, como energia, água, saneamento, portos…
Qual a discussão que vai nortear os principais debates no II FSB?
O “FSB e a experiência brasileira” será o principal tema do encontro. Entendemos que a situação e os desdobramentos da situação política no Brasil no próximo período terá implicações profundas na América Latina e em todo o mundo. Por isso que desde o início dos debates em torno da realização do FSB tivemos a preocupação de transformar a problemática nacional num debate internacional. Estamos esperando delegações de vários países. Mesmo com todos os limites verificados nestes três anos e meio de governo, devemos fazer todos os esforços para derrotar as forças conservadoras e persistir nesta difícil transição política e econômica para juntos construirmos um novo modelo de desenvolvimento brasileiro que trará profundos reflexos nos aspectos culturais, econômicos, sociais e até mesmo geográficos da América Latina.
Como está o cronograma de atividades da CUT no FSB?
A CUT sempre organizou várias atividades nos fóruns até hoje realizados, e não será diferente neste II FSB. Toda a CUT, com suas direções nacionais, confederações, federações, sindicatos de base e CUTs estaduais, deverá inscrever mesas e mobilizar um bom número de dirigentes, ativistas e trabalhadores da base sindical para a capital pernambucana.
Esta Entrevista em Rede está disponível para todas as midias alternativas. Veja quem já está públicando esta entrevista: