Para fazer um país

Imagem: arte de rua/artista:maionese

Uma sociedade civil mais protagonista, comunidades mais fortes e atuantes, e a defesa de políticas públicas que venham da sociedade. Estas são algumas das buscas que constituem o espírito do Fórum Social Brasileiro, segundo a diretora de Relações Institucionais do Instituto Paulo Freire, Salete Valesan Camba.

Nesta entrevista a Mariana Lettis, de Ciranda Piolho, Salete avalia a contribuição que o FSB pode dar neste momento e frisa que fato de se dar em um momento eleitoral é importante. A grande virada ainda não veio, mas o FSB é um espaço para discutir o que precisa mudar.

Por que um Fórum Social Brasileiro ?

A idéia do FSB nasceu depois de todo um processo que foi construido no Fórum Social Mundial e pela necessidade de nacionalizar – e não só internacionalizar – esse processo. Em Porto Alegre, o FSM impulsionou uma participação mundial e nós ficamos com um desafio muito grande no Brasil, como país anfitrião de um fórum que provoca a motivação para um outro mundo possível. Como é possível um outro mundo a partir do país em que você se encontra?

Assim surgiu o Conselho Brasileiro que organizou o I Fórum Social Brasileiro, em 2003, em Belo Horizonte, em um momento político diferente do que nós temos hoje. Havia toda uma expectativa em relação ao governo brasileiro que só tinha um ano, e as dicussões foram as mais diversas possíveis, com propostas políticas de todo tipo e até com avaliaçóes desse primeiro ano de governo. E houve muitas contribuições de movimentos e organizações para esse processo que o Fórum Social Mundial vem provocando de repensar e reorganização da sociedade civil.


Qual o impacto que o FSB pode ter sobre a situação política atual?

Se nós realizamos o primeiro em um contexto de expectativa por mudanças, esse segundo acontece em um ano bastante significativo e também preocupante porque a gente não sabe para onde vão caminhar as apostas e as opções políticas do povo brasileiro. Temos noção de quem está envolvido nesse processo do Fórum Social Brasileiro e Mundial, que é a bandeira de defesa de uma cidadania mais democrática e mais coletiva.

A aposta que estamos fazendo – e por isso realizando o FSB no primeiro semestre de 2006 – é de que esse movimento todo provocado no Brasil, de 2001 a 2006, pelo processo FSM, com a construção de inúmeras redes, movimentos sociais e ongs, consiga fazer um debate sobre propostas de políticas públicas que nós queremos ver ser defendidas nesse ano de eleição de 2006.

Também queremos fazer uma análise da caminhada desses movimentos e entidades nesses anos todos de defesa da democracia, dos direitos humanos, de uma sociedade civil mais justa, de quanto nós conseguimos avançar e quais os caminhos que nós temos que trilhar daqui pra frente pra garantir o mínimo de qualidade de vida, de identidade, de cidadania.

O FSB propõe avaliar a esperiência brasileira nos últimos anos. Qual a sua avaliação?

A experiência brasileira provoca uma série de reflexões. Tem a experiência que vem da reação política aos anos pós-ditadura, com diferentes governos, cada um com sua marca, e embora os movimentos tenham esperado uma virada de 180 graus no governo Lula, temos consciência de que essa virada não ocorreu.

Tivemos muitos avanços em relação a governos anteriores, com muitos programas e projetos implementados na área social, mas na questão econômica e prioridades de país, para que ele se transforme na Nação pela qual nós estamos lutando e que o Fórum Social Brasileiro e Mundial vem propondo, ainda estamos longe disso. Mas a aposta é que essa experiência não pare em 2006, que ainda se tenha pelo menos mais um tempo de governo para que algumas questões, que são muitas, e que não conseguiram se realizar sejam concretizadas a partir das proposições da sociedade civil organizada. E da não organizada também. Precisamos aprender a ouvir o que a população quer e deseja e que nem sempre é coerente com as ações que a gente realiza.


Como o Instituto Paulo Freire, que está fazendo a secretaria executiva do FSB, vê esse fórum?

Esta é uma responsabilidade que assumimos desde o I Fórum Social Brasileiro, com outras entidades e movimentos que se identificam na busca de transformar esse país em uma Nação mais justa, mais igualitária, mais humana.

E isto se liga com a luta sempre feita por Paulo Freire, tanto no Brasil quanto fora, e é o maior fator de identidade com o movimento do Fórum Social Mundial e do Brasileiro: a ligação direta com tudo que Paulo Freire desenvolveu ao longo de sua vida e com tudo que ele deixou. Para nós, estar ajudando a manter essa história a garantir que ela provoque as transformações desta Nação é estar continuando o legado de Paulo Freire.

Também estamos no FSB porque o Instituto Paulo Freire tem um trabalho muito grande, nacional, com redes e movimentos sociais, e toda nossa energia se canaliza para que a gente possa fortalecer as bases desses movimentos e organizar cada vez mais as comunidades e associações para que elas realmente tenham uma participação cidadã e ativa. Que elas não fiquem esperando políticas de governos que vão e que vem para que as coisas se realizem, porque a gente tem clareza que não é assim que funciona. Uma nação se torna Nação quanto seus cidadãos/ãs se comprometem, lutam e conquistam seus espaços. E também quando a gente consegue colocar governos melhores para essa Nação.

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