“De repente
não mais que de repente
milhares de mulheres
destruíram o silêncio
Naquele dia
nas terras ditas da Aracruz
as mulheres da Via Campesina
foram o nosso gesto
foram a nossa fala.”
8 de março de 2006, Aracruz Celulose. Todas nós estivemos lá. Eram nossas as mãos que arrancavam do solo a sombra de um deserto verde que bania vidas da terra. Onde o capital e seu discurso de progresso já havia devastado aquilo que existia de mais valioso naquele solo: a voz de seus habitantes.
Nas salas das famílias burguesas, as TVs anunciaram um crime sem história: o das mulheres camponesas que teriam, por obra de sua fúria, atentado contra o labor da ciência e o trabalho de outros homens e mulheres.
Negaram a voz às mulheres e a todas nós o direito de ouví-las. Sem reportar causas. As mulheres foram arrancadas do solo de suas histórias, para que nada denunciasse o lamento por trás da revolta.
A atitude dos que marcaram seus rostos com a tarja da culpa e da perseguição impregnou as vidas de todas e todos nós com a mancha do silêncio. Não eram elas as criminosas, mas seremos todas e todos se aceitarmos conviver com a dor da deserção da terra. O crime é permitir que as grandes corporações e máfias internacionais do eucalipto varram a esperança de uma vida com dignidade, justiça, liberdade e igualdade.
Por isso, precisamos fazer valer o grito das mulheres da Via Campesina, juntarmos às delas as nossas vozes, em coro, impedindo que o silêncio as sentencie. Em todo o mundo recolheremos assinaturas e manifestações de solidariedade até o final do mês de maio. Esse chamamento se destina a todas as pessoas que desejarem romper com a impunidade dos verdadeiros agressores. Sejamos todas e todos signatários desta campanha de SOLIDARIEDADE TOTAL ÀS MULHERES DA VIA CAMPESINA.
Recife, 22 de abril de 2006.