experiência brasileira em toda sua potencialidade é singular na discussão de caminhos a seguir para a construção de um país igualitário e justo, democrático e sustentável. Nossa jornada de lutas envolve momentos de esperança e de crise. Diversas interpretações estão em curso, assim como diferentes tomadas de posição sobre o que fazer. Essa pluralidade é o que anima e se expressará nesse II Fórum Social Brasileiro, chamado Fórum de Abril.
É, assim, imprescindível ampliar o diálogo e as articulações entre os movimentos e as diferentes redes da sociedade civil para construir agendas comuns e tirar lições para o futuro. Para isso, contamos, entre outros espaços, com o processo do Fórum Social Mundial, que criou a possibilidade de discussões abertas e livres entre os que lutam pelo fim do neoliberalismo e pela superação de todas as formas de opressão.
Dentro dessa perspectiva, os movimentos e organizações que realizaram o Fórum Social Mundial de 2005 decidiram promover, de 20 a 23 de abril de 2006, na cidade do Recife (PE), o II Fórum Social Brasileiro – como um Fórum Social Mundial Temático – sobre a experiência política vivida pelo povo brasileiro, na ótica dos movimentos e organizações da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo, ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo.
Movimentos e organizações, que vêm se reunindo em Fóruns Sociais pelo mundo afora, têm uma expectativa carregada de esperança no êxito de um processo permanente de busca e construção de uma globalização solidária que respeite os direitos humanos universais, apoiada em sistemas e instituições internacionais democráticos a serviço da justiça social, da igualdade, da soberania dos povos e do respeito ao meio ambiente. Esses movimentos e organizações estão acompanhando atentamente o que ocorre em nosso país, pelos impactos e dinâmicas que podem gerar em outros lugares. Participando do Fórum de Abril, eles lhe darão um caráter internacional, embora centrado na experiência brasileira.
Como todos os Fóruns Sociais, o Fórum de Abril será um espaço de debate da sociedade civil, horizontal, aberto e autogestionado pelos seus participantes, autônomo em relação a governos e partidos, nos termos da Carta de Princípios do Fórum Social Mundial. Ele será organizado em torno de áreas de diálogo, nas quais a disputa entre pontos de vista seja substituída pela escuta das análises, interpretações e propostas de todos e todas, sem atividades mais importantes que outras nem atividades centrais.
Os movimentos sociais, redes e entidades que organizam o Fórum de Abril não esperam que nele se chegue a conclusões ou orientações finais únicas, mas sim ao levantamento do máximo possível de ensinamentos e opções alternativas para o futuro, debatendo tanto o papel dos governos, como dos movimentos e organizações da sociedade civil e suas redes e o dos partidos. O que se pretende é que os desacordos sejam tratados no respeito de uns pelos outros, na sua diversidade de pontos de vista e práticas, possibilitando a identificação das convergências existentes para a construção de novos consensos mobilizadores no caso, rumo ao Brasil que queremos.
Recife, 14 de fevereiro de 2006.