Foto:fabiano p.silva
A insustentabilidade está em nosso dia-a-dia. Nas relações sociais e trabalhistas, na pobreza, na fome, na concentração de renda, na impunidade e na violência, etc. “A sustentabilidade se dará quando se tirar da pobreza homens, mulheres e crianças e quando investirmos mais em educação”, exclamou Moacir Gadotti, coordenador da mesa da conferência que discutiu o Eixo 1 do Fórum Mundial de Educação Alto Tietê: Educar para a sustentabilidade do Planeta. O evento ocorreu na quinta-feira, dia 13 de setembro, no Ginásio Municipal de Esportes de Mogi das Cruzes (SP), logo após a abertura oficial do FME.
Gadotti trabalhou lado a lado com o educador Paulo Freire e defendeu as idéia de seu colega: para que haja uma transformação interna do cidadão é preciso uma mudança de consciência política. Como dizia o próprio Paulo Freire, que é tido como um dos mais brilhantes estudiosos da pedagogia, é preciso educar politicamente. Ao concluir seu raciocínio, o professor Moacir Gadotti, diretor do Instituto Paulo Freire e professor da Universidade de São Paulo (USP), chamou a atenção para a necessidade de desmercantilizar a educação. Ou seja, tirar o caráter de mercadoria que está sendo atribuído a educação. Ao final, foi aplaudido ao exclamar sobre a necessidade de se cultivar os sonhos e de sonhar cada vez mais alto. “Queremos outros mundos possíveis. Não apenas um, mas vários. Para assegurar a diversidade”, disse.
O educador popular, que apostou na escolarização para conscientizar, também foi lembrado por seu colega da mesa de debates, o professor da Universidade de Campinas (Unicamp), Carlos Rodrigues Brandão, que ressaltou a importância da educação popular, da conscientização, politização, cidadania e participação. “Temos que passar por um projeto interior para que alcancemos as mudanças externas. Querer a sustentabilidade dos recursos naturais sem resolver as questões sociais como a justiça da terra, das relações sociais… Assim não se conseguirá”, disse.
Outro ponto muito comentado pelos dois participantes foi a tentativa de muitas empresas de se apropriarem de um discurso para buscar a sustentabilidade para, em troca, conquistar novos mercados. É o que se convencionou a chamar de responsabilidade social empresarial. Para Brandão, empresas e poder público são secundários. “O senhor da situação é cada um de nós aqui. Nós temos o poder de transformar”, concluiu.
No campo
A pedagoga Cristina Vargas, do Movimento Sem-Terra, contou a experiência do movimento com a criação de escolas nos acampamentos e assentamentos. Ela disse que quando as crianças iam para as escolas, nas cidades mais próximas, descobriu-se que elas estavam sendo orientadas a enxergar a terra como algo sujo. “Nas escolas padrões se ensina que campo é sinônimo de atraso. Que a terra só serve pra sujar. Que chegar empoeirado na escola significa que você é sujo, que se você não se veste como a moda, você está atrasado”, indignou-se a educadora.
Com base nessas experiências, as famílias perceberam que as escolas estavam deseducando suas crianças. E o MST defende justamente o contrário: se apropriar da terra não apenas como um modo de produção, mas também é um espaço de vivência e convivência. Foi então que foram criadas escolas nos próprios assentamentos. Professores foram contratados. “Recebemos as cartilhas e ensinamos tudo que está no programa do governo. Não estamos tirando do Estado essa responsabilidade. Apenas estamos criando uma nova forma de ensinar”, explicou Cristina, que fez questão de ressaltar que não se trata de doutrina, mas, sim, de uma nova educação para uma nova relação com a terra e com o planeta.
Saiba mais sobre o que foi dito na Conferência em:
www.paulofreire.org/
www.mst.org.br