De catadora de material reciclável a educadora popular

Érica é presidente da Associação de Catadores de Papel de Presidente Epitácio, no interior de São Paulo e tornou-se educadora popular. Um exemplo vivo de que é possível incluir e que os movimentos sociais têm grande importância na transformação do indivíduo em protagonista de sua própria vida.

Qual foi a sua trajetória do Movimento de Catadores até o MOVA (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos)?

Há cinco anos atrás, após uma separação, fui obrigada a buscar um sustento para mim e minhas duas filhas. Acabei me tornando catadora de material reciclável. Depois disso, entrei para a Associação de Catadores de Presidente Epitácio.

Na associação havia técnicos que mantinham uma relação de patrão/empregado com os catadores. Naquela época, eu nem sabia que eu era uma ‘catadora’. E o catador, em geral, se via apenas com um ‘catador’ e não como cidadão.

Houve uma atividade do movimento na associação e a partir daí a criação de um comitê. Esse comitê decidiu entrar em contato com o Instituto Paulo Freire, que propôs o projeto MOVA e fui convidada para trabalhar, no projeto, como educadora popular porque eu era uma das únicas de tinha segundo grau.

Antes não me sentia capaz de ser educadora… Hoje, acredito que aprendi mais com os catadores do que ensinei. Além disto, o vínculo com eles se estreitou. Acredito que consegui abrir uma ‘gavetinha’. O método permitiu que os catadores se identificassem mais com as questões políticas da atividade que eles exercem. A perspectiva mudou. Hoje eles desempenham muitas outras tarefas dentro da associação, e já não atuam somente como catadores.

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Há quanto tempo você é educadora popular? Neste período, você identificou outras questões sociais ou políticas que tenham sido despertadas entre os catadores?

Desde novembro de 2006 trabalho com o MOVA. Comecei com 15 alunos numa sala de aula mesmo. Mas os alunos estavam resistentes, até o ponto de ficar apenas uma aluna. Isto porque essas pessoas carregam traumas, e eles estavam associando a nossa proposta ao ensino convencional.

Depois que decidimos mudar as aulas para o barracão de material reciclado, os alunos começaram a retornar. E a realidade cotidiana deles é trabalhada em aula, como o projeto de coleta seletiva da cidade, por exemplo. Com isso, os alunos descobriram fatos importantes sobre o papel deles.

Economia solidária, coleta seletiva e projetos de lei, por exemplo, são temas que eles já trabalhavam cotidianamente, e descobriram como eles têm conhecimento nestas áreas, só que não era formalizado.

Hoje há autogestão! Eles aprenderam que são patrões deles mesmos e que não precisam de técnicos. Com o MOVA eles aprenderam que podiam passar essas coisas para o papel.

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