Vitória no porto de Oakland: barco israelense tem a sua descarga bloqueada

Gloria La Riva

Em nossa época esta é uma ação histórica e sem precedentes. Mais de 800
ativistas sindicais e comunitários bloquearam o cais de Oakland durante a
madrugada, o que permitiu que os estivadores se negassem a cruzar as linhas
do piquete e impediu a descarga de um barco israelense.

De 5:30am a 9:30am, um protesto militante e espirituoso ocorreu em frente às
quatro portas do Serviço de Estiva da América, com as pessoas cantando sem
parar “*Livre, Palestina livre, não cruze a linha do piquete”* e *“Um ataque
contra um é um ataque contra todos, o muro do apartheid vai cair”*.
Argumentando acerca de sua saúde e segurança – disposições contidas em seus contratos de trabalho – os trabalhadores, ligados à ILWU [organização
sindical internacional dos trabalhadores portuários], se negaram a cruzar o
piquete.

Entre as 8:30am e as 9:00am, uma arbitragem de emergência foi realizada no
estacionamento da empresa Maersk, próximo ao cais. De forma “instantânea”,
um juiz apareceu no local para decidir se os trabalhadores podiam negar-se a cruzar o piquete sem medidas disciplinares.

Às 9:15am, após confirmar a continuidade do protesto de centenas de pessoas
em cada portão de acesso caís, o juiz sentenciou a favor do sindicato,
dizendo que a situação era realmente insegura para que os trabalhadores
tentassem entrar no cais.

Jess Ghannam, da Aliança Palestina Livre, e Richard Becker, da Coalizão
Answer (Atue Agora para Parar a Guerra e Acabar com o Racismo, na sigla em inglês), receberam aplausos e gritos de “Viva a Palestina!”, ao anunciarem a vitória do movimento. Ghannam disse: “Isto é realmente histórico, nunca antes um barco israelense havia sido bloqueado nos Estados Unidos!”

A notícia de que um navio com contêineres da companhia de navegação Zim
Israel estava programado para chegar à área da baía neste domingo provocou
uma enorme onda de solidariedade com a Palestina, sobretudo em função do
violento atentado israelense, no dia 30 de maio, contra os voluntários que
levavam ajuda humanitária para Gaza.

Com dez dias de antecipação à chegada do navio, um clima de emergência se
criou no “Comitê Sindical e Comunitário de Solidariedade com o Povo
Palestino”. Na quarta-feira, 110 pessoas dos sindicatos e da comunidade
vieram ajudar a organizar a logística, a difusão e o apoio da comunidade
local. Dentre as organizações que tornaram o ato possível estão a Coalizão
Palestina Al-Awda Direito ao Retorno, a Coalizão ANSWER, a Seção local da
Uslaw (Trabalhadores Estadunidenses Contra a Guerra), e a Seção Sindical do
Comitê pela Paz e pela Justiça.

Esta semana, dois conselhos sindicais locais aprovaram resoluções quanto à
denúncia do bloqueio israelense a Gaza. Ambos emitiram notas públicas sobre a ação no cais do porto.

O ILWU tem una história de orgulho por estender a sua solidariedade aos
povos que lutam em todo o mundo. Em 1984, as massas negras sul africanas
participavam de uma intensa luta contra o apartheid, e o ILWU negou-se por
dez dias (um recorde) a descarregar mercadorias do navio “Ned Lloyd”, da
África do Sul. Apesar de multas milionárias impostas aos sindicatos, os
trabalhadores portuários se mantiveram fortes, proporcionando um grande
impulso ao movimento contra o apartheid.

Entre as muitas declarações de solidariedade ao protesto estão a dos
trabalhadores palestinos e cubanos. A Federação Geral Palestina de
Sindicatos, disse que “sua ação de hoje é um marco na solidariedade
internacional dos trabalhadores dos EUA, de honestos e valentes
sindicalistas. Saudações dos sindicalistas e trabalhadores da Palestina… dos
sindicalistas e trabalhadores enjaulados em Gaza.”

A Central de Trabalhadores de Cuba (CTC) escreveu: “Nosso povo vive há 50 anos um bloqueio injusto e abominável do governo dos EUA, de modo que
entendemos muito bem como o povo palestino se sente, e vamos estar sempre em solidariedade com a sua justa causa. Hoje lhes enviamos o nosso apoio mais sincero. Viva a solidariedade da classe trabalhadora! Fim ao bloqueio de Gaza! Respeito e justiça para o povo da Palestina!”

A ação de hoje em Oakland, no sexto maior porto dos Estados Unidos, é o
primeiro de vários protestos e paralisações previstos em todo o mundo,
incluindo Noruega, Suécia e África do Sul. Seguramente inspiraremos outros a
fazerem o mesmo.

(tradução a partir do espanhol: Rodrigo Fonseca)

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