Trabalhadores, Racismo e Pandemia no Brasil

Primeiro de maio de 2021. Brasil Pandêmico.

São mais de 406 mil mortos por Covid 19. Desemprego recorde: 14,4 milhões de pessoas (trimestre móvel dezembro-fevereiro); 3,9 milhões de postos de trabalho encerrados (entre fevereiro de 2020 e fevereiro de 2021); 6 milhões de pessoas que desistiram de procurar emprego (dados IBGE).

A crise sanitária trouxe a situação vulnerável dos trabalhadores e trabalhadoras a baila. O governo federal retomou o auxílio emergencial após três meses de suspensão, mas reduziu o número de beneficiários do programa. Autônomos, desempregados e mães chefes de família voltaram a receber o benefício. Mas os valores, que vão de R$150 a R$ 375, não compram nem metade da cesta básica.

O Brasil retornou ao mapa da fome da ONU. O desmonte consistente das políticas públicas promovido pela atual gestão federal faz com que 116,8 milhões de brasileiros (metade da população brasileira!) não tenham acesso pleno e permanente a alimentos nesse momento.

E, além da falta de emprego, renda, políticas públicas, fome, há inflação. A alta dos preços dos alimentos está quase o triplo da taxa de inflação oficial. Em um ano, o preço do óleo de soja subiu quase 105%, o arroz está 76% mais caro, a batata custa quase 50% mais. Segundo o IBGE cereais, leguminosas e oleaginosas aumentaram 57,83%.

A conjuntura explicita o racismo estrutural que assola o país.

Estudos realizados com dados do município de São Paulo (que, pode-se considerar, tem um pouco de cada região do Brasil) demonstraram que homens negros são os que mais morrem no país (250 óbitos pela doença a cada 100 mil habitantes), seguidos das mulheres negras (170 óbitos pela doença a cada 100 mil habitantes). A necessidade de sair para trabalhar, ou buscar trabalho, e por consequência se expor ao risco de contágio, o insuficiente acesso aos serviços de saúde, as condições de vida inadequadas – com moradias piores, maior número de pessoas habitando o mesmo espaço por metro quadrado e falta de acesso à água são algumas das explicações.

Pretos e pretas vulneráveis são os mais atingidos. A fome assola-os. E a busca por alimentos é uma realidade. Além disso, as violências sofridas por negros e negras aumentam em todas as regiões do país.

Exemplo disso foi o que aconteceu em Salvador –BA, a cidade mais negra do país.

Nessa semana, dia 26 de abril de 2021 em Salvador-BA, dois homens Bruno Barros Reis e seu sobrinho Ian Barros da Silva foram barbaramente assassinados depois de serem supostamente flagrados furtando um pedaço de carne e um quilo de feijão no Supermercado Atacadão Atakarejo. O fato chocou.

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Fotos: Bruno e Ian presos no Atacadão Atakarejo. Imagens circularam pelas redes sociais antes de seus corpos serem encontrados – reprodução

Esses dois homens negros foram presos pela segurança do supermercado, entregues pela segurança e gerência do Atacação Atakarejo para a facção do tráfico de drogas. Segundo a família, eles enviaram áudios, após terem sido presos, pedindo dinheiro R$ 700 para serem para pagar a carne e serem soltos. Bruno e Ian foram torturados e mortos.

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No dia 30 de abril (sexta-feira) organizações do Movimento Negro como Círculo Palmarino, Unegro, Coletivo de Entidades Negras, União Popular, e de partidos políticos (PSOL, PT, PCdoB, PCB) fizeram manifestação conjunta pacífica na frente do supermercado. Depois de várias falas, os manifestantes adentraram ao supermercado com palavras de ordem contra o genocídio do povo negro.

Segundo os diferentes órgãos públicos envolvidos na apuração dos fatos, as investigações estão em andamento. A empresa, Atacadão Atakarejo, se manifestou por meio de nota, informando que “é cumpridor da legislação vigente, e atua rigorosamente comprometido com a obediência às normas legais, e que não compactua com qualquer ato em desacordo com a lei.”

Até quando fatos como esse acontecerão?

#VidasNegrasImportam
#VacinaJa
#1maio2021
#AuxilioEmergencia600Reais

Imagem capa: montagem ciranda.net (Fotos CUT, Elineudo Pereira, Chico Carlos, imagens Ian e Bruno – reprodução de imagens circulando nas redes sociais)

Fontes:
Universidade Johns Hopkins
Instagram Jaco
Faculdade Medicina UFMG – 1
Instituto Polis
O joio e o trigo

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