Infinitos cortes, reduções e alterações de linhas de ônibus dos últimos meses fizeram a cidade ficar ainda mais dividida. Os trajetos triplicaram de tempo em decorrência das diferente baldeações e intervalos enormes entre os coletivos. A população ficou muito mais exposta aos assaltos, já que várias “integrações” ocorrem em lugares ermos e perigosos, especialmente à noite, como Presidente Vargas, Candelária, Central, Castelo e outros.
Quem estabeleceu e definiu tais reduções, em nenhum momento pensou que além dos riscos informados acima, as pessoas têm inúmeros compromissos além do trabalho, como faculdade, cursos, escolas dos filhos, consultas médicas, pagamento de contas e muitos outros. A vida é tão corrida, para dormir quase já não sobrava tempo e agora muitos terão que abrir mão de atividades importantes porque não têm mais como “fazer milagre” com o tempo.
Vou citar como exemplo o caso da redução das linhas 433 e 464. Essas duas linhas sempre foram muito utilizadas em qualquer hora do dia ou à noite. O intervalo da linha 433 era pequeno, com ônibus a cada 5 ou 8 minutos. Ambas foram reduzidas, não passando mais por Copacabana, Ipanema e Leblon. Teoricamente foram substituídas pelo Troncal 2, porém o mesmo é quase um “ônibus fantasma”. Na parte da noite o tempo de espera em geral varia de 50min a 2horas (segundo um motorista).
Fiz um teste por 3 noites, esperando cerca de 1h10min e o tal ônibus substituto não apareceu. Fazer a baldeação no Rio Sul foi uma tentativa um pouco menos arriscada, porém outros usuários comentaram que o 433 e o 464 só passam por lá após 23, 23:30hs e agora com intervalo enorme. Em um dos dias, a espera chegou a 50min e assim por volta de meia-noite havia fila imensa na porta do shopping. Conclusão, o trajeto Copacabana-Lapa, que antes era feito entre 20 e 30min, nesse dia levou quase 2h.
O caso descrito acima foi apenas uma amostra do que tem ocorrido na cidade nos últimos meses. A quantidade de passageiros impactados é enorme, sem falar nos inúmeros motoristas e trocadores demitidos. Paralelamente a isso, ônibus cheios, trânsito confuso e insatisfação fazem com que motoristas em certos pontos passem com letreiro apagado, amparados pelo fato de que não é mais possível identificar pela cor do veículo. Deste modo, a espera pelo próximo coletivo se torna ainda maior.
Como dizia Clarice Lispector, “Todo cidadão tem o direito de ir e vir. Desde que seja a pé, …”