Spinoza, o autor da “Ética”, no século XVII, traçava o caminho para a cidadania em meio à opressão! Indivíduos amedrontados podem ser transformados em cidadãos livres exclusivamente através do processo educativo e participativo. A tirania enclausura o indivíduo no corpo e no intelecto, arrancando-o do convívio social. A democracia, o oposto da tirania, é o regime que respeita os entes humanos como singulares, mas coaduna tal cuidado com a força e os direitos coletivos.
Thomas Mann, o maior dos escritores alemães do século XX, compreendendo os perigos que a ordem nazifascista representava para a Alemanha, assim como para o restante do mundo, exilou-se e engajou-se na luta democrática. Em 1937, publicou uma crônica sob o título: “Advertência à Europa!”
Uma das mais importantes obras primas do grande mestre foi, sem dúvida, o romance “Dr. Fausto”. Escrito em 1956, espelha uma visão amadurecida de todo o processo em que as liberdades foram destroçadas pelo nazismo.
No nazismo, a violência opunha-se à verdade! Pregava-se um abismo entre a verdade e a força, a verdade e a vida, a verdade e a coletividade.
Francisco de Oliveira nos alertara que “o caminho do progresso, o caminho da modernidade havia sido lograr sínteses que ampliavam o espaço da liberdade”. “Em sociedades tão desiguais como a nossa, a privatização da vida é uma das piores marcas que reforça a desigualdade”.
O nosso déficit de cidadania é por demais conhecido. De certa forma regrediu à situação colonial denunciada por Caio Prado e Florestan.
Desde 2019, entretanto, a sociedade brasileira passou a viver um dos períodos mais dramáticos de toda a sua existência. Somente agora, após dezoito meses, a maioria desta mesma população começa a se dar conta da destruição em escala do patrimônio natural e sócio- cultural de nossa civilização, que Bolsonaro promove, exclusivamente, em benefício de seu grupo, dos militares e milicianos que o sustentam, e de boa parte dos grandes empresários.
O Brasil da Pandemia atravessa agora sua pior crise dos últimos dois séculos. E o governo aposta sempre no quanto pior, melhor.
No espaço público em que se formam cidadãos; é nas escolas, na educação, nas Universidades que se produzirão as políticas capazes de reverter a situação do avanço das tendências fascistas, antidemocráticas e antinacionais que emergem contra o país e a sociedade civil. Precisamos nos preparar para retomá-las!
A “Advertência à Europa” de Mann atualiza-se numa Advertência aos Brasileiros!
“Malditos, malditos os corruptores, que mandaram à escola do Diabo uma parcela do gênero humano, originalmente honrada, bem-intencionada, apenas excessivamente dócil”.
Este é apenas um resumo. Convidamos à leitura do ensaio.
Ilustração: Dr Fausto e o diabo [LVX et Tenebris]