Será mesmo uma ironia?

Foto: P.St.Jacques

Casas sem reboco, dependuradas nos morros e encostas, vielas sujas e abandonadas, o mau cheiro dos esgotos a céu aberto misturam-se com o mau cheiro da violência. Milhares de crianças estão sem escola, envolvidas com o tráfico de drogas. A violência é generalizada. Exploração do trabalho. Subemprego, ônibus, trens e metrôs. Chacinas e invasões policiais.

Este é o retrato da senzala moderna, mais conhecida como favela, periferia ou gueto.
Crianças estão jogadas, largadas por todos os cantos, tentando fazer do duro e sofrido dia-a-dia algo mais leve e alegre.
Os campinhos de futebol estão presentes em toda parte, na terra batida, com traves improvisadas e bolas roubadas.

“- Aqui não era para ser um campo de futebol?” perguntam alguns garotos ao se depararem com um cemitério clandestino no meio da favela.

Sim, a sociedade promete, a elite ironiza, e a guerra continua. A céu aberto estão covas e corpos, sangue fresco de quem morreu há pouco, e é enterrado ali mesmo, como indigente, com a mãe chorando ao lado. Lágrimas desesperadas, de quem já sabia o futuro do filho.

A cena é típica em qualquer “sub-mundo” brasileiro. E por mais que os habitantes dos morros gritem por socorro, a resposta vem como um tiro de fuzil, disparado por policiais, toda semana na quebrada.

Aliás, a polícia e a sociedade matam mais do que a AIDS. Uma situação irônica? Acho que mais triste e desesperadora do que qualquer outra coisa.

Que futuro tem a criança que dribla a bola em meio aos corpos caídos na favela? Pelos becos e vielas também há outros, esperando uma vaga no novo “cemitério” que está sendo construído.

Do lado de lá, no asfalto a “burguesia” delicia-se com o fato irônico, tentando explicar como ele foi descoberto, contanto piadas acerca da situação.

A imprensa adora, é mais sangue estampado na primeira página. É uma branda denúncia ao sistema !?

A solução ? Ninguém conhece. Se conhece, desconhece.

O menino que queria o campo de futebol prometido sonha a noite, com uma bola nova, um par de chuteiras, e um campo igual ao que ele vê na TV. Mas ele vai ter que esperar, crescer para poder virar ladrão, traficante e respeitado no morro, aí vai poder comprar tudo isso, se ele não morrer e cair na cova de mais um cemitério que poderia virar quadra esportiva.

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