ilustração: Camus e Satre
Após a expulsão dos alemães da França, o Partido Comunista Francês tinha 400.000 filiados e praticamente todos os grandes sindicatos seguiam suas orientações. Em 1946, seus filiados chegaram a 800.000 e nas eleições o partido obteve um terço dos votos; os Ministérios da Educação, da Segurança Social e da Polícia ficaram sob seu controle.
Unidos intelectualmente desde 1940 e pessoalmente nos anos de resistência ao nazismo, os dois filósofos e ativistas eram nessa altura não alinhados ao P.C.; Camus como editor de “Le Combat” e Sartre como o criador do veículo político e cultural mais importante da França, “Les Temps Modernes”.
A polarização da guerra fria e as publicações de Arthur Koestler denunciando, seis anos antes de Khrushchev, os “expurgos, os assassinatos políticos e os gulags de Stalin”, assim como a invasão soviética e o esmagamento da nascente democracia húngara, foram fatores que pressionaram por uma tomada de posição política. E os dois amigos romperam publicamente.
Devemos, hoje, buscar no conflito Sartre- Camus aspectos positivos e relevantes, e , sem dúvida a legitimidade de muitos dos posicionamentos políticos de cada um deles. Se Camus jamais foi um partidário do capitalismo selvagem, Sartre nunca foi um stalinista, muito pelo contrário. Ambos possuíam estreitos compromissos com a liberdade, a democracia e a justiça social, e estes princípios os uniram mesmo na ruptura pessoal e política.
Com um posicionamento ponderado, analisou R. Aronson: “Considero que não se pode ver e viver a história como um teatro de moralidades, onde o bem luta contra o mal. Tal atitude nos impossibilitaria de ver e viver suas ambiguidades e tragédias”.
Ao lado de barbáries como a guerra, as duas primeiras décadas do XX presentearam a humanidade com esperanças de mudanças, de revoluções. Por outro lado, o final do século XX e os primórdios do XXI nos trouxeram o despedaçamento da esperança de avanços rumo a uma sociedade mais igualitária e, mesmo, o sacrifício da própria liberdade.
“Esta luta entre a esquerda livre e a esquerda progressista é o problema essencial de nosso movimento.” Em resposta a “Os mandarins” de Beauvoir, Camus escreveu “A queda” que lhe abriu as portas para o Prêmio Nobel de Literatura, em 1950. Mas a resposta não se fez esperar: “As palavras”, obra magistral de Sartre não perde nem originalidade e nem em importância. O Prêmio Nobel de Literatura também lhe foi oferecido.
Num certo sentido, a ruptura entre Sartre e de Camus e o antagonismo ideológico que os separou foram marcas que tingiriam toda a segunda metade do século passado, incluindo a guerra fria, o desmoronar da antiga União Soviética e o galope vitorioso do neoliberalismo globalizante dos anos 1990.
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