RODA DE LEMBRANÇAS – SEPETIBA
Memórias dos pescadores
No dia 25 de outubro de 2009, Sepetiba foi brindada pela presença dos participantes da I Jornada de Formação em Museologia Comunitária realizada pela SMC/ Coord. de Museus, Ecomuseu de Santa Cruz, NOPH, ABREMC, UMCO.
A inclusão do bairro no roteiro da Jornada através da realização da Roda de Lembranças no Centro Comunitário Santo Expedito proporcionou uma imensa alegria para aqueles que realmente defendem Sepetiba, reconhecem a importância do bairro e, principalmente sonham em ver o bairro senão como era antes, ao menos próximo do que desejam.
Os presentes tiveram o prazer de ouvir as narrativas de ícones locais, figuras quase emblemáticas como Seu Erasmo “o velho lobo do mar”, “Seu” Jorge Salviano estrelas de nossa roda de lembranças, além de moradores como Dona Ivonda, esposa de Sérgio Pinto,o próprio Sérgio Pinto, Conceição do Movimento Fé e política, Eliane Roxo (Fé e Política), Willian Coelho uma das lideranças locais, diga-se de passagem, a única a comparecer, infelizmente não pudemos contar com a presença de alguns líderes de organizações do bairro.
Compartilhamos vivências e histórias narrando a Sepetiba “de antigamente” descrevendo como se deu o rápido processo de degradação ambiental, o “esquecimento” das memórias, o desaparecimento das narrativas a respeito da história local dos discursos contemporâneos, e, nos surpreendemos quando uma participante do museu do Folclore de São José dos Campos – SP narrou sua experiência em Sepetiba durante a infância, que lhe causou uma cicatriz no dedo polegar, impressionada com a situação atual do bairro, das praias que ela havia conhecido em 1939 ficou muito emocionada e exaltou a memória local nos incentivando na preservação das narrativas, do meio ambiente e de todo patrimônio material, imaterial, tangível e intangivel que nos resta.
Nada mais justo aqui do que agradecer a Odalice Priosti e a Walter Priosti, aos professores Hugue de Varine e Teresa Morales(INAH-UMCO/México), aos representantes do Ecomuseu da Serra de Ouro Preto ( Yara Mattos, Bruno Bedim, Kátia Moreira e alunos da UFOP), a Patrícia Berg (UIMCA -RS), Bruno Cruz (NOPH/Ecomuseu), Rafael Muniz do Ecomuseu de Itaipu – PR, aos membros da equipe do Ecomuseu da Amazônia – Belém do Pará e, é claro, não podemos esquecer de agradecer a boa vontade desses homens que sempre lutaram por Sepetiba: “Seu” Erasmo e “seu” Salviano – ao movimento Fé e Política que cedeu o espaço para realização do evento, ao movimento Atitude Sepetiba por ter cedido o Som e o microfone – A presença de Claúdia representando a AMORES – aos poucos moradores (infelizmente) que compareceram prestigiando este evento tão significativo e de suma importância para o bairro.
Além da troca de experiências e do pronto apoio oferecido pelos membros das equipes dos ecomuseus participantes da Jornada, o evento também foi muito importante para nós, moradores de Sepetiba mais contemporâneos, pois ao ouvir os relatos, as narrativas, sentimos despertar um sentimento talvez um pouco adormecido: a auto-estima – enquanto moradores, muitas vezes nos sentimos um tanto o quanto desprezados pelas autoridades e até mesmo por moradores de bairros de outras regiões da cidade do Rio de Janeiro, contudo após a Roda de lembranças, concluímos que a situação de Sepetiba nem sempre foi essa que vemos agora, já tivemos notoriedade, Sepetiba já foi uma região disputada pelos chamados “veranistas” que muitas vezes não conseguiam alugar casas no bairro tamanha a procura, Sepetiba outrora fora freqüentada por figuras importantes, Personagens históricas passaram pelo bairro reconhecendo sua beleza e tranqüilidade, como D. João VI, D. Pedro I, D. Leopoldina, José Bonifácio, o Visconde de Sepetiba, Jean Baptiste Debret dentre muitos outros.
Enfim, as pessoas ao construírem histórias estão construindo a si mesmas e ao outro como seres sociais, pois as narrativas como uma forma de organização do discurso, têm o potencial de criar um sentido de nós mesmos ao permitir que negociemos e construamos as nossas identidades sociais por meio dos eventos narrados[1].
Narrar é construir-se, e não podemos deixar que as narrativas, patrimônio imaterial importantíssimo para a construção das identidades sejam perdidas, eventos deste tipo deveriam ser realizados regularmente, digo, Rodas de lembranças e de preferência com a presença dos jovens para que as narrativas não desapareçam.
Sepetiba é um bairro localizado na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro onde ocorreram muitos eventos memoráveis no que concerne a formação do nosso país e a construção/formação da identidade nacional[2], é por meio da história que as pessoas comuns procuram compreender as “revoluções” e mudanças por que passam em suas próprias vidas: transformações sociais, culturais, guerras, mudanças comportamentais, econômicas, mudanças tecnológicas etc. Através da história local, um bairro ou uma cidade procura um sentido para sua própria natureza em mudança, em constante transformação e assim estabelecem-se os vínculos, necessários para mobilização e conseqüente desenvolvimento social de uma comunidade, de um povo. Thompson (1992)
[1] MOITA LOPES, L. P. da . Discursos de identidades. Campinas: Mercado de Letras, 2003, 153.
[2] Vale dizer que a memória e a identidade podem perfeitamente ser negociadas, e não são fenômenos que devam ser compreendidos como essenciais de uma pessoa ou de um grupo, porém acreditamos que quando um determinado grupo de pessoas não se sente integrado a um contexto social, cultural ou histórico específico pode conhecer um sentimento de descontinuidade e de ausência de referência incomodo e, muitas vezes desorientador, é o que ocorre com alguns moradores do bairro entrevistados.