Rio+20 é muito além do +40

Rio além do +40: com certeza + 20 é uma redução da história, por Sucena Shkrada Resk

Os grandes eventos têm capacidade de forjar ou ressuscitar movimentos. Por um lado, é muito positivo, mas por outro, nos prega a peça de ações calcadas em modismos, das quais devemos fugir. Seja como for, a Rio+20, no próximo ano, deve ser encarada, ao meu ver, como Rio ‘muito além do +40’, pois esta história é muito antiga e tem outros personagens envolvidos, que devem ser reconhecidos na trajetória do ambientalismo mundial. A juventude, por sua vez, deve saber desse processo, para que sinta o quanto é importante ter o empoderamento nessa causa planetária, que exige muita seriedade e responsabilidade de todos nós, cidadãos.

Nos idos dos anos 60 para os 70, constatações ainda tão atuais de que o mundo estava sendo consumido predatoriamente por nós, seres humanos, já ocorriam. Relatórios como “Os Limites do Crescimento”, do Clube de Roma, é um exemplo disso, apesar de até então, estar circunscrito ao bojo dos intelectuais. Em “O Nosso Futuro Comum”, da Comissão Brundtland, a 1ª Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente, popularmente conhecida por Conferência de Estocolmo, trouxe em 1972, mais uma vez, a constatação do desequilíbrio do que se chamou posteriormente do tripé da sustentabilidade.

Bem antes disso, em 1962, não podemos esquecer da atitude ousada da bióloga Rachel Carson, ao publicar “Primavera Silenciosa”. Sinceramente devemos ser gratos a essa mulher de fibra, que ao descobrir os efeitos maléficos dos pesticidas, teve a grandeza de colocar isso ao mundo, apesar das perseguições sofridas. A causa dela transcendia corporações, segmentos…

Pioneiros de movimentos, como do Greenpeace, em 1978, que foram redescobertos em Documentário Os Guerreiros do Arco Íris da Ilha Waihek, apresentado na TV Cultura, se somam a esses ativistas. Os neo-zelandezes, por ideologia (com I maiúsculo e não, aquela partidária que se abre a qualquer concessão), abriram uma nova discussão na agenda mundial. Naquela época, iniciaram mobilização no Pacífico contra os testes nucleares franceses. Hoje continuam com a mesma postura coerente de vida, como minha amiga socióloga Leda me falou na semana passada e me fez recobrar o quanto é essencial, não termos essa memória fragilizada.

Pessoas como essas têm que ser lembradas, como tantas outras anônimas, que construíram a luta pela qualidade de vida, para que as ações do hoje não sejam meros oba-obas de ocasião.

A ECO 92, Rio 92 ou Cúpula da Terra – seja qual for o nome que se queira identificá-la – com certeza tem um peso extremamente estratégico (não tão reconhecido à época), o que não podemos esquecer em nenhum segundo na preparação da Rio+20. Foi de lá, que surgiram documentos tão importantes, mas ainda tão relegados ao segundo plano, como a Agenda 21 e as Convenções do Clima e da Diversidade Biológica.
A Rio+10, em Johannesburgo, na África, também não pode ser engavetada e colocada nos porões de nossa conveniência.

Diante de todo este arcabouço, ao se fazer uma análise superficial, verificamos que ainda somos muito superficiais na aplicação desse novo modelo civilizatório proposto, há décadas. Vide a situação do Protocolo de Kyoto, da morosidade de compromissos das nações, com a COP16 (climática). Talvez a COP10 é a que tenha mais avançado, com a tentativa de combate à biopirataria. Mas temos de ser realistas. Ela só dará certo se estiver interligada com as discussões climáticas, entre outras. Não é possível compartimentar essas discussões, como se fossem água e vinho.

Quando lemos diretrizes, como as constantes na Carta da Terra, que teve uma gestação longa até 2000, ao ser lapidada, observamos que todas as prerrogativas, desde 68 apenas são modificadas em vírgulas. O conteúdo é o mesmo!!!!!! Sabemos o que está errado.

Agora, a discussão gira em torno da economia verde e da governança da sustentabilidade. Com certeza, nada mudou em nossas pautas, porque ainda não mudamos nosso padrão de desenvolvimento.

Para que a Rio+20 (ou melhor além do +40) ganhe verdadeiro significado às atuais e futuras gerações, é necessário que se envolva todos os atores da sociedade, sem exceção. Temos o dever civilizatório de multiplicarmos essas informações e fomentar questionamentos em nossas crianças, adolescentes, adultos e idosos. E acima de tudo, não esquecermos que aquelas pessoas que hoje não conseguem se expressar, porque passam fome, sede, estão abaixo da linha da pobreza ou em meio a guerras insanas, que ceifam seu poder de discernimento ou que são refugiados climáticos, merecem ser inseridos decentemente nesta agenda. Não só como meras menções, mas como atores a serem ouvidos.

Esses cidadãos devem estar representados no ano que vem, no Rio de Janeiro, e terem o poder de fala. Uma fala autêntica, desprovida de politicagem. Uma fala que ingresse até o fundo de nossa consciência e seja capaz de fazer agirmos, de fato, em busca de um mundo diferente, inclusivo, equilibrado e amoroso. Um amor ao semelhante, à terra, à água, ao ar, à vida, um amor a nós mesmos…

Fonte: Blog Cidadãos do Mundo – www.cidadaodomundo.blogse.com.br – jornalista Sucena Shkrada Resk – www.twitter.com/SucenaSResk

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