Revistinha difícil? Não, pedagógica!

Revistinha difícil? Não, pedagógica!
Por Elaine Tavares – editora da Pobres e Nojentas

A revista alternativa catarinense Pobres e Nojentas caminha para seu terceiro ano de vida, sempre apresentando uma nova possibilidade de aprendizagem no campo do jornalismo. Nojenta mesmo, querendo falar desde a periferia da periferia, afinal, quem pode inventar algo se não está no eixo Rio/São Paulo? Pois a gente faz isso. Por isso, outro dia, numa das reuniões de discussão das editoras, numa mesa de bar, falávamos sobre a dificuldade de vender a bichinha. Muitos são os comentários e um deles – além do fato de estarmos em Santa Catarina – é bastante recorrente. “O nome não ajuda. As pessoas não entendem bem o nojentas e não gostam de ser identificadas com o pobres”. Nessa hora, sempre surge a idéia de mudar o nome para, quem sabe assim, atender aos apelos do “marquetin”. É aí que eu gosto sempre de entrar com os argumentos que, na verdade, são a alma desta revista.

Ocorre que a Pobres e Nojentas não é uma revista qualquer, feita para vender da maneira fácil, como por exemplo a Caras ou a Tititi. Estas são revistas óbvias. Caras é o retrato da superficialidade, já o diz seu nome, é a aparência, o fugaz. Tititi é o reino da fofoca, do boato, do maldizer, e assim por diante. O nome das revistas diz tudo. É óbvio, seguro, ululante. A Pobres e Nojentas não. Ela é uma revista difícil. Ela provoca, de cara, um estranhamento. A pessoa pode até achar que entendeu a proposta pelo nome, mas se olhar a revista vai ver que é outra coisa. E aí é que ela se diferencia de todos esses títulos que aí estão. A P&N é um convite ao pensar. É pedagógica desde o primeiro olhar. Ela requer do leitor um movimento de mergulho, de busca, de deciframentos. Ela não é óbvia. E ela precisa ser conhecida assim, devagar, tateando, como todas as coisas que realmente se conhece e, depois, se ama.

Por isso que o nome Pobres e Nojentas não é “vendável”, não é “comercial”. Porque a própria idéia da revista nasceu de uma outra forma de se relacionar com o mundo. O pequeno feixe de papel que as pessoas compram não só uma mercadoria, e seu irrisório preço não expressa só seu valor de troca. A P&N está, para nós, dentro do reino da “necessidade” e não do consumo ritual. As vidas que se revelam nas páginas “nojentas” não são narradas para entreter. Elas se mostram ali pedagogicamente. Cada história mostra como as gentes ditas comuns – de uma América Latina e um Brasil reais – vão construindo esse mundo, com suas lutas, dores e alegria. É como uma grande roda ancestral em volta da fogueira onde contamos histórias para não esquecer de nossas belezas. Mulheres e homens que se reconhecem sujeitos, que enfrentam a vida com garra e seguem rompendo auroras.

Com essa pretensão a Pobres e Nojentas adentra em seu terceiro ano enfrentando as mesmas caras torcidas dos donos de banca, dos leitores preguiçosos, dos pseudo-intelectuais, e segue seu caminho lento na construção de uma proposta que chamo de “jornalismo libertador”. Ou seja, um jornalismo absolutamente comprometido com o outro, mas não um outro qualquer, é o outro oprimido, a comunidade das vítimas do capital. Aqueles que, a despeito do massacre capitalista – que incentiva o egoísmo, a individualidade exacerbada, o hedonismo barato – vivenciam coisas antigas e belas como a solidariedade, a partilha, a cooperação e o amor-compromisso. A Pobres e Nojentas te convida a pensar, sem elucubrações teóricas ou notas de rodapé, mas no corpo-a-corpo com a vida, como diria o mestre João Antônio. Ela é sempre uma aventura, nunca óbvia, sempre um salto no abismo! E está bem ali, nas duas bancas mais corajosas da ilha: a da UFSC e a da Catedral. Ou então, de mão em mão, por aí, nos caminhos… Atreva-se para além do estranhamento e descubra…

A Pobres pode ser comprada via correio eletrônico: eteia@gmx.net
Tel: 48. 99078877

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