O centro de São Paulo é imperceptível sob a poluição dos carros que vem e vão. Com isso, os motoristas quase nunca veem a vida que a cidade têm. No entanto, entre prédios antigos, restaurados, abandonados ou ocupados, a fachada branca e vermelha na Rua Mauá chama a atenção de quem passa. Ali, onde até 1986 funcionava um hotel, moram hoje 237 famílias distribuídas pelos seis andares do edifício.
A Ocupação Mauá existe desde 2007, mas em 2012, às vésperas de completar cinco anos, uma liminar de reintegração de posse foi concedida pelo juiz da 26ª Vara Cível do Foro Central, Carlos Eduardo Borges Fantacine em favor do proprietário do imóvel, abandonado havia mais de 20 anos e com uma dívida de IPTU, desde 1973, estimada em R$ 2,5 milhões. Pela legislação vigente, os moradores teriam o direito de requerer o usucapião pro moradia. Hoje a liminar está suspensa.
O Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, vereador José Américo, avalia que a quantidade de metros quadrados disponível na região poderia atender parte da demanda de moradia popular na cidade, melhorando as condições de vida das pessoas. “O Novo Plano Diretor quer estimular a recuperação de prédios que estão na região central e desestimular o abandono, desenvolvendo mecanismos tributários que podem facilitar a desapropriação e permitir que a prefeitura os transforme em conjuntos habitacionais”.
Ivaneti Araújo, coordenadora do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC), avalia que a questão das Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis) é um dos principais pontos a serem rediscutidos pelo Plano. “Tudo o que diz respeito à habitação deve ser repensado de forma conjunta com os movimentos sociais”, avalia.
Mas essa não é a única possibilidade de atuação para habitação popular na região. Diferente da visão macro que é compreendida pelo Plano, um grupo de estudantes de engenharia civil, engenharia ambiental e arquitetura da USP desenvolveu um projeto de reabilitação do edifício para a Ocupação Mauá, o Projeto Mauá 340. Uma das metas é ser um projeto participativo e de estudo da questão da moradia no centro, além de gerar visibilidade para as ocupações, quebrando paradigmas e preconceitos.
Para Bruno Fukasawa, um dos criadores do Projeto Mauá 340 e agora formado em engenharia ambiental, é importante pensar em soluções integradas entre as esferas federal, estadual e municipal. “Muita gente coloca fé na revisão do Plano Diretor e parece que elaborá-lo é solução dos problemas cidade”, comenta. “Eu acho isso muita pretensão, apesar de reconhecer sua grande importância na construção de uma cidade mais justa”.
Já para Ivaneti, a revisão do Plano Diretor só tem validade se for feita com participação popular. “Se o debate ficar só entre os vereadores e secretários, corremos o risco de repetir os erros das gestões anteriores, principalmente na questão da habitação. Precisamos de um planejamento urbano que atenda às necessidades sociais dos grupos mais vulneráveis, que permita que o direito à cidade seja exercido por todos”, conclui.