A sociedade brasileira “é muito complexa”, disse aos cubanos o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, ao comentar o futuro próximo do Brasil. “Há muitos interesses envolvidos e as mudanças não dependem só da vontade do presidente ou de um partido, mas da correlação de forças, de como se movimentam as classes sociais e as lutas”.
Um “refluxo do movimento de massas” que já vem de 15 anos, na sua avaliação retira “a força do povo para a reforma agrária e outras mudanças necessárias”. Mas no segundo mandato de Lula, e já sem a questão eleitoral em jogo, ele disse haver “esperanças de que o povo tenha energia para conseguir se mobilizar mais para enfrentar os graves problemas que temos”. Estão entre esses problemas o desemprego, a pobreza e a pouca formação, com apenas 8% dos jovens com acesso à universidade.
A ida para o segundo turno, segundo Stédile, acabou sendo “muito importante, porque permitiu que fossem feitos debates sobre idéias que interessam às distintas classes em nosso país”. Ele avalia que a eleição presidencial foi “extremamente positiva”, lembrando que “Lula não somente ganhou com 61% dos votos mas também o candidato da direita teve menos votos que no primeiro turno”.
“Na realidade, o povo votou contra o neoliberalismo, mas nem o Governo Lula nem o PT reuniram forças suficiente para derrotá-lo. Só reuniremos estas forças se o povo se organizar, se mobilizar e lutar, e é nisso que vamos colocar nossas energias para o próximo período”, prometeu.
Disse ainda esperar que “também que no campo, no segundo mandato, tenhamos mais condições de acumular forças e avançar com mobilizações de massas para enfrentar o latifúndio, as trasnacionais que tentam controlar nossa agricultura”.(RF)