Racismo contra as mulheres indígenas

Eliane Potiguara. Enviado em Questão Indígena, 4 de Março.- Quantas mulheres já perderam
suas vidas por descaso, desconsideração, intolerância, racismo, descuido, esquecimento,
desprestígio, desqualificação, invisibilidade entre outras categorias? Quantas avós,
tias, mães, primas perdemos?

Eu perdi minha pobre mãe, vítima de contaminação de hepatite C, por ocasião de uma
histerectomia total num hospital público, em 2001. Perdi minha avó pela tristeza do
desterro indígena paraibano, vítima do alcoolismo e da pneumonia em 1976. Perdi tia-avó
por hemorragia uterina em 1960 e eu me salvei da anemia e da tuberculose na
pré-adolescência e dos tumores na garganta e na mama, hoje benignos.

Milhares de mulheres indígenas passaram por esses casos completamente invisíveis, tendo
seus direitos humanos violados! Os séculos vão se passando, as tecnologias vão se
aprimorando, os armamentos bélicos vão ficando cada vez mais sofisticados, as lojas, os
shoppings, as grandes empresas cada vez mais douradas, a mídia fortalecendo esses
segmentos e a própria mídia extremamente fortalecida por si só. É uma força total.

O Bem e o Mal estão aí para análise da sociedade. A violência impera nos segmentos da
sociedade brasileira e se estende pelo mundo e vice-versa.

Depois da ditadura militar os movimentos sociais voltaram a se organizar, as Ongs foram
criadas para suprir as demandas do povo e fazer aquilo que era e é de obrigação
governamental. Os programas internacionais que apoiaram Nelson Mandela para que ele
saísse da cadeia e acabasse com o racismo no mundo, não apóiam mais, se viraram para
outras demandas, introjetaram que o racismo já havia acabado.

O racismo não acabou em lugar nenhum! Principalmente no que diz respeito aos povos
indígenas e em particular a mulher indígena. Os casos recentes estão na imprensa nanica,
na mídia digital e até na grande imprensa, objetivando sensacionalismo e acumulação de
recursos financeiros em detrimento da desgraça humana.

O Grumin-On-Line publicou na semana do 8 de março de 2007 o triste caso da índia
wapixana. Vejamos:

‘Tudo começou com o falecimento da minha mãe no dia 27 de setembro de 2006. Minha mãe era
professora da UFSC e índia sa etnia Wapixana do Norte de Roraima. Durante uma cirurgia de
histerectomia vaginal (retirada do útero), realizada por um médico negligente ela veio a
falecer.

Minha mãe era mestre em História Indígena e preparava-se para defender sua tese de
dissertação. Suas pesquisas estavam iluminando aspectos ocultos da história da região de
Roraima e fortalecendo a lutas das comunidades indígenas por seus direitos.
Acreditamos que houve racismo para com minha mãe durante o ato cirúrgico e que o médico
não deu a devida importância para a pessoa de minha mãe.

Agora, minha família e eu estamos conversando com as entidades que possam nos ajudar,
enviando uma carta de apoio a esta causa para nós. Esta carta ficará anexa ao pedido de
esclarecimentos do caso ao Ministério Público e ao CRM. 9 (veja carta em GRUMIN -on-line
ed. 8 de março http://blog.elianepotiguara.org.br
Gostaria de sua ajuda caso seja possível.
Um abraço
Iracema Wapixana

Essa é uma história de uma moça indígena que teve a coragem de anunciar sua indignação
diante da medicina burguesa.

Eu tenho dito há duas décadas para que as mulheres indígenas criem suas organizações,
inclusive dentro de suas próprias casas. Eu espero que tenham me ouvido porque , depois
do nascimento jurídico do GRUMIN em 1987, muitas mulheres abriram suas organizações. Isso
significa que eu estava certa quando me vi por louca durante uma década em que tentaram
destruir minha imagem, meu ser, meu coração, minha alma, minha luta.

E EU JÁ DIZIA :

‘Não se seca a raiz de quem tem sementes

Espalhadas pela terra pra brotar.

Não se apaga dos avós – rica memória

Veia ancestral: rituais pra se lembrar

Não se aparam largas asas

Que o céu é liberdade

E a fé é encontra-la.

Rogai por nós, meu pai-Xamã

Pra que o espírito ruim da mata

Não provoque a fraqueza, a miséria e a morte.

Rogai por nós – terra nossa mãe

Pra que essas roupas rotas

E esses homens maus

Se acabem ao toque dos maracás.

Afastai-nos das desgraças, da cachaça e da discórdia,

Ajudai a unidade entre as nações.

Alumiai homens, mulheres e crianças,

Apagai entre os fortes a inveja e a ingratidão.

Dai-nos luz, fé, a vida nas pajelanças,

Evitai, Ó Tupã, a violência e a matança.

Num lugar sagrado junto ao igarapé.

Nas noites de lua cheia, ó MARÇAL, chamai ““.

(…)

(Eliane Potiguara)

Trecho do cântico: Oração pela libertação dos povos indígenas. Veja Texto completo em :

http://www.elianepotiguara.org.br/canticos.html

Informa Grumin/Rede de Comunicação Indígena

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