“Quem está por trás?” é a grande pergunta para uma série de atentados contra a democracia e a dignidade brasileiras a espera de explicações. E as respostas estão sendo prometidas para logo. A mais estremecedora delas pode ser a resposta para o crime de execução política cometido em 2018 contra a vereadora carioca Marielle Franco. A mulher que estava desafiando as milícias do Rio de Janeiro foi assassinada por isso, e também por ser negra e lésbica, por representar uma sociedade que a extrema direita queria abortar em seu nascedouro.
O crime ocorreu no Rio enquanto transcorria uma edição do Fórum Social Mundial em Salvador e fez o próprio evento internacional transpor o território da Universidade Federal da Bahia para as ruas da cidade e das ruas para o mundo, fazendo eco ao clamor internacional que vinha dos atos espontâneos que acordaram a capital carioca com os protestos e o pavor diante do crime brutal.
Aos 38 anos, Marielle foi assassinada como prenúncio daquilo que se pretendia fazer do país: um caldeirão envenenado para empoderar o ódio, o racismo, preconceito e violência com sexualidades não binária, o fanatismo e o crime organizado. Mas o mais apavorante são as conexões entre os executores, sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio Queiroz e quem ocupava o poder central do país.
A ordem para o crime não foi desvendada, mas um novo tempo de retomada democrática promete que será novamente investigada, com a federalização do caso. O assunto foi discutido entre o ministro da Justiça, Flávio Dino, e procurador-geral da Justiça, Luciano Mattos. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, irmã de Marielle, também quer novidades para logo.
Dos crimes contra os yanomamis aos da praça dos três poderes
Há mais por investigar e responder e a lista começa por apontar e prender os responsáveis pelo garimpo ilegal que vinha matando os yanomamis de fome, sede e envenamento por mercúrio. Porque o garimpo não é um mero negócio de indivíduos em busca de pepitas. A Polícia Federal bloqueou R$ 2 bilhões de suspeitos de contrabando de ouro ilegal da Amazônia, em operação conjunta com o Ministério Público Federal e a Receita Federal. Mas isto é só a ponta do novelo.
O pacote de crimes contra os indígenas também está recheado das armas de fogo distribuidas aos civis na Amazônia Legal entre 2018 e 2022. Os dados do Exército obtidos pelo Instituto Sou da Paz e pelo Instituto Igarapé por meio da Lei de Acesso à Informação mostram que, em 7 dos 9 estados da região, a quantidade passou de 6.693 para 56.473 armas, um aumento de 743,7%: Nos últimos dois anos,, o arsenal dos CACs na Amazônia legal aumentau 96%. Nesse caso, proprietários e CACs terão de recadastrar cada arma, e as que não aparecerem nessa fase se tornarão ilegais. Se a medida for cumprida, todo mundo precisará dar as caras e explicar o que estão fazendo com tantas armas – um número que passa a ser limitado ao máximo de 3 por pessoa devidamente autorizada, o que já é um exagero.
Outra resposta, mais do que aguardada, é sobre os mandantes dos atos golpistas do 8 de Janeiro na Praça dos Três Poderes. No dia 14 de fevereiro, a PGR denunciou mais 139 pessoas envolvidas, chegando a mais de 800 pessoas denunciadas. É através delas que o Ministério Público e a Justiça deverão chegar aos insufladores, aos financiadores e aos poderosos responsáveis por atacar a democracia brasileira.
As redes sociais também são capazes de identificar as linhas de comando e os esquemas de propagação de fakenews. A TikTok divulgou ontem que removeu no Brasil mais de 10,4 mil vídeos da plataforma entre os dias 8 e 15 de janeiro, por incitar violência e terrorismo. Esses vídeos têm origem!
Entre muitos segredos esperados há um que parece de foro íntimo, como defende o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, e o senador Flávio Carvalho. Trata-se da decisão da CGU de retirar o sigilo da ficha de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas não há nada de íntimo no fato de um presidente dizer à população que a vacina é dispensável e perigosa quando ele próprio pode ter corrido a proteger-se.
A covid matou perto de 700 mil pessoas até o final de 2022, e as mortes só foram reduzidas após a vacinação. O pior efeito do descrédito nas vacinas foi a redução do número de imunizados para outras doenças, expondo as crianças brasileiras a doenças graves como poliomielite, rotavírus, pneumonia, difteria, diarreia, sarampo, coqueluche,rubéola e tétano. Estimativas da Organização Mundial de Saúde dão conta de que a vacinação em massa evita atualmente ao menos 4 mortes por minuto no mundo. E o Brasil, antes de Bolsonaro, era exemplo mundial de sucesso em vacinação.
Há muita responsabilidade a ser apurada pelo que aconteceu neste país desde a campanha que elegeu Jair Bolsonaro presidente até janeiro de 2023. E tudo parece um grande power point ainda por ser desenhado.