PR tem a rede Puxirão

O direito de fala a diferentes manifestações foi uma marca do encontro Entremundos. Rômulo Barroso Miranda, religioso de matriz africana, do Fórum Paranaense das Religiões de Matriz Africana e da coordenação da Rede Puxirão, apresentou o histórico de lutas do grupo, no primeiro dia do evento (23).

“Entrei na militância, por causa da dificuldade de mostrar que havia essas religiões no PR. Quer queira ou não, o povo tradicional tem de discutir essa modernidade. Para nos manter, tivermos de colocar a cara na rua, porque quem assume a instância de poder são os inimigos”, diz. Segundo ele, as casas de candomblé começaram a ser invadidas por religiosos fanáticos de outra religião. Hoje, entretanto, o Fórum vai fazer um ano com adesão de 80 casas.

Miranda falou que os desafios ainda são muitos. “No Censo 2010, na região de Colombo, por exemplo, muitos religiosos de matriz africana não foram contemplados na amostragem. “Dia 2 vamos fazer um acampamento em Curitiba, dos povos tradicionais, para discutir essas questões…”

De acordo com o religioso, o povo tradicional que cultua com a natureza é considerado, por muitos, como do mal, e isso é um desafio a quebrar. “A Rede Puxirão existe oficialmente desde 2008. Queremos que o governo do Paraná nos reconheça como povos tradicionais. Já afirmar a nossa existência enquanto grupo já é um avanço nos últimos anos”, considera.

Mais um empasse, segundo Miranda, é o confronto com as mobilizações de ambientalistas, no sentido da criação de mais áreas ambientais em localizações onde os religiosos vivem. “Quando criam uma Área de Preservação Ambiental (APA), o meu povo não pode mais comer, porque o rio é bonito…A Academia é equivocada sobre os nossos valores, temos de mudar o pensar sobre nós. Atualmente há oito decretos municipais aprovados no PR para o reconhecimento de nosso segmento”, afirma o religioso.

“Queremos políticas e ações neste sentido. O povo tradicional quer perpetuar sua relação com a terra. A Rede Puxirão tem oito segmentos, com demandas individuais, mas descobrimos que junto somos fortes, e nos apropriamos um pouco do saber do outro. O maior problema é no campo do Direito”, fala o coordenador. No ano que vem, a discussão deverá ser em âmbito nacional.

“O poder de transformar a sociedade, é do povo tradicional. Não pode ser colocado na mão da academia e do gestor…O conhecimento do candomblé é um culto de ancestrais divinos e humanos, passados desde nossos bisavôs. Os divinizados (Olorum) tem diferentes nomenclaturas em outras religiões. Na judaico-cristão, por exemplo, é o Jeová. A aura que a gente carrega é o sopro de Deus no nosso nariz”, fala.

A figura do Exu foi demonizada pelas Igrejas, segundo Miranda. “Ele não tem chifre ou rabo. Cada orixa cultua a natureza, as aves e rios. Todo mundo tem ligações energéticas, dentro do candomblé, onde os laços ancestrais são divinizados. Pode não ter o vínculo com o negro africano, mas pode ter o vínculo divino”, explica.

O sincretismo, em sua avaliação, foi uma ferramenta de resistência para que pudéssem se manter vivos. “Temos nossos ritos ligados à natureza, alguns contestados como o sacrifício de animais. O candomblé não é uma religião catequisadora e todo mundo é sacerdote. Não vamos fazer propaganda de ninguém para chamar devotos”, afirma.

“Insisto na questão do direito, para que seja colocado em prática. Não existe a identificação de povos tradicionais no sul do Brasil. Lá são tão oprimidos como na Amazônia”, diz o coordenador da Rede Puxirão.

Confira a íntegra do evento em Ocareté-Entremundos
www.ocarete.org.br/entremundos

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