Paz, reconciliação e legalização das drogas

A jogada calculada do presidente Uribe de levar a OEA a denúncia da suposta conivência do governo da Venezuela com a presença da guerrilha em seu território mostra como atuou este governo nos útlimos oito anos, e nos serve de lição para não proceder desta maneira.

Uribe traçou para si uma meta até 2019. Seu sonho era consolidar uma nação com uma formação fazendeira-clerical-colonial mas “moderna”. A ordem dos submissos e a paz dos cemitérios. Queria estar na história como o grande “reformador” do século XXI. E… o quis fazer a qualquer preço. Mas era impossível atingir seu objetivo. Sua visão é retrógrada, reacionária, de tipo medieval. A vida já fazia democracia e paz. Uribe, por mais que trabalhe e se esforce, vai na contramão, não mais.

Por isso, teve que sustentar seu projeto na base de shows midiáticos. “Falsos positivos” de todas as classes e tamanhos para tapar delitos e crimes cometidos desde o governo. No entanto, de nada serviria. Depois de 7 de agosto, já sem sua “aura messiânica”, Uribe mão poderá montar outro “falso positivo” maior que o anterior. A fórmula se esgotou e, então, vão estar dadas as condições para que toda a verdade apareça.

Nós, democratas colombianos, devemos avaliar com humildade nossa ação política. Somos parte da mesma sociedade que produziu indivíduos como Álvaro Uribe Vélez e José Obdulio Gaviria. Algo deles devemos ter em nosso inconsciente coletivo. Não existe vacina contra a “racionalidade social histórica”. O único que serve para superar as limitações estruturais é ser absolutamente consciente delas. Saber o que somos, explicarmos por que somos assim, é o primeiro passo para superá-las.

Estratégia sem tática, tática sem visão de longo prazo

A mentalidade excludente da oligarquia latifundiária – herdeira dos encomenderos espanhóis que protagonizaram a conquista e colonização da Nova Granada – nos imprimiu um selo de intolerância, de extremissmo e violência, que nos faz balançar ciclicamente entre fundamentalismo e oportunismo.

Temos nos movido entre essas duas atitudes, de forma constante. O primeiro, de origem escolástico-clerical, só repara em princípios, não diferencia os detalhes, vê todo em branco e preto, vai de bons para maus. Se coloca como objetivo “destruir e desaparecer com o inimigo”. O segundo, de caráter “cortesão”, privilegia as formas e os m´´etodos, se perde nas indefinições e nos cinzas, se acomoda com as circustâncias, deixa a metade pelo caminho, assimilando-se ao contraditor.

A recente campanha eleitoral, apesar de ter sido dominada por posições fundamentalistas, também mostrou o conhecido e reiterado oportunismo dos partidos tradicionais. No entanto, a sociedade colombiana enviou sinais inequívocos de que quer algo diferente, de que deseja superar a violência e fez um chamado tácito a encontrar caminhos de auto-reconhecimento e reconciliação.

Por isso é que se faz necessário revisarmos, repensarmos, e estarmos dispostos a confrontar-nos. Reconhecer nossas falhas e erros é doloroso, incômodo, mas se queremos faze-lo, vamos poder responder ao momento histórico que vivemos. Se não fizermos, daremos tropeções e, certamente, serão muito fortes, como os que vem dando Uribe.

Hoje a principal tarefa é construir a unidade de pensamento entre os democratas colombianos. O objetivo estratégico é construir a Democracia Participativa e conquistar Soberania Política. Essa meta estratégica tem como cenário inicial (tático) conseguir a superação do Conflito Armado mediante uma saída política que leve à reconciliação entre os colombianos e, simultaneamente, liquidar a Economia do Narcotráfico mediante uma política de legalização das drogas. Não há outra saída.

São tarefas imensas, muito dificeis. Sua cobertura é nacional, regional, continental e mundial. Parecem impossíveis, mas são indispensáveis para sair da armadilha histórica em que giramos. Assim, no imediato se se conseguisse um acordo de paz com a insurgência, não lograríamos muito. Estamos vendo os casos de México e América Central: o narcotráfico é hoje o autêntico combustível de toda classe de violências.

Por isso, neste momento em que se acumularam todas as condições para apertarmos o passo, todos os partidos políticos e movimentos sociais deveríamos nos centrar sobre estes dois temas: paz democrática e legalização da droga. Até o presidente Chavez fez um chamado a insurgência colombiana que mude sua estratégica, isso é muito importante de ressaltar.

Não vai ser fácil para o novo governo avançar nesta direção. O império, a oligarquia possuidora de terras convertida em grande empresário agro industrial e todos aqueles que vivem da economia ilegal e da guerra (máfia, militares corruptos, etc) vão querer apertar esse gargalo.

Somente se unirmos todos os setores democráticos, se clarearmos a estratégia e a tática, poderemos fazer coincidir nossos esforços com a tendência predominante na América e no Mundo. Há que se tentar.

ALAI – Tradução Coletivo DAR

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