Foto: lideranças triquis falam à Ciranda e mídias alternativas durante Caravana de Coico DH a Oaxaca
O município autônomo de San Juan Copala lançou um “!!!alerta vermelho!!!”, neste 16 de setembro, desde que 500 homens fortemente armados, membros do Movimento de Unificação e Luta Triqui (MULT) e da Unidade para o Bem Estar Social da Região Triqui (Ubisort), mantém cercada a comunidade. As 50 famílias que restam nas terras triquis estão praticamente sequestradas, “não podem sair à janela que eles já disparam”, como informa o site do governo autônomo na resistência. Na última sexta, 17 de setembro, foi ferida Macaria Merino Martínez, de 85 anos; e na madrugada de sábado foi encontrado assassinado o jovem David Garcia, de 25 anos, ao tentar romper o cerco e sair do município.
No mesmo dia, na capital do México, acontecia uma manifestação em frente à Secretaria do Governo Federal, organizada pelo Comitê de Defesa e pela Justiça no Município Autônomo de San Juan Copala. Durante a marcha, os manifestantes perceberam uma mulher e um homem que tiravam fotos individuais de cada pessoa. Os triquis mantém um Plantão de Defesa de San Juan Copala no Distrito Federal há muitos meses, desde que a truculência do governo assassino de Ulises Ruiz aumentou, uma espécie de acampamento no centro da cidade, onde expõe sua luta e vendem vídeos e artesanato para sustentar o movimento.
Os triquis, mas principalmente as idéias de administração autônoma das comunidades indígenas, estão em vários “pueblos”, além da capital do México. Num Estado frequentemente na mira dos defensores dos direitos humanos, onde tenta se implantar a cultura da violência e da impunidade, as comunidades resistem nas suas formas de organização, consolidadas institucionalmente como “usos e costumbres”, mas dificilmente respeitadas. Os interesses financiadores dos paramilitares querem mesmo é a terra indígena; no sul do México, há lutas em vários municípios, muitas insufladas por representantes de megaprojetos, como mineradoras, que dividem a população.
A maioria do povo resiste na defesa da cultura ancestral e das riquezas naturais da terra, como fontes de água, contra poderosos e globalizados exploradores. E o México revela um Estado cada vez mais militarizado, ao sul e ao norte, embora a grande imprensa divulgue apenas o que ocorre na fronteira com o império, e numa só versão. Embora o cerco e a matança em San Juan Copala já dure meses, não se vê uma linha na grande imprensa comercial.
Autonomia por “usos e costumbres”
Copala faz parte do sul do México, onde estão os estados mais pobres e militarizados: Chiapas e Guerrero, além de Oaxaca. A resistência dos zapatistas em Chiapas é conhecida, como também a insurreição não armada ocorrida em 2006, conhecida como “Comuna de Oaxaca”, protagonizada pelos movimentos sociais organizados na APPO – Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca. Naquela ocasião, os poderes constituídos foram abandonados no estado, passando ao controle da APPO por seis meses, com ampla participação popular; não conseguiram manter-se depois de enfrentarem brutal repressão por parte dos governos de Ulises Ruiz e do presidente Felipe Calderon. Na sequência desta mobilização, se fundou o município autônomo de San Juan Copala, que resiste desde 2007.
Os povoados naquele sul mexicano convivem com paramilitares (inclusive membros da Ubisort) que violentam as mulheres, assassinam lideranças e ativistas, inclusive estrangeiros, entre os quais 120 jornalistas, só nos últimos 20 anos. Em média um por mês no último período. O mais emblemático caso de assassinato, ocorrido em abril deste ano, foi numa emboscada para impedir que chegassem mais de 30 toneladas de ajuda humanitária à San Juan Copala. A ativista Bety Cariño, 30 anos, do grupo mexicano de direitos humanos CACTUS e do Jubileo Sur Americas, e o observador internacional da Finlândia, Jyri Jaakola, 30, foram assassinados com balas na cabeça ao conduzir a caravana, com mais de 100 ativistas mexicanos e estrangeiros, que chegava com a ajuda para a comunidade autônoma.
Apesar do caso mobilizar ativistas de direitos humanos do mundo todo, de manifestações e pedidos ao governo de Oaxaca, e do México, para que interrompam a matança, novas caravanas com socorro continuaram a ser impedidas de chegar aos triquis. Segundo seus comunicados, a municipalidade tem procurado a Cruz Vermelha Internacional e o Comissariado de Direitos Humanos da ONU, a Câmara dos Deputados criou uma comissão voltada para San Juan Copala, mas de concreto nada muda.
No último ano, com medo e muitos mortos, famílias e famílias foram abandonando a comunidade, e agora MULT e Ubisort, unidas e militarizadas, querem acabar de vez com a autonomia de San Juan Copala. Procurada, a justiça de Oaxaca simplesmente nega que a sede do município esteja cercada, negando, entre outras coisas, acesso médico atrês mulheres feridas: além de Macária, Maria Rosa Francisco, de 35 anos e Maria Rosa Lopez, de 55.
O governador de Oaxaca, Ulises Ruiz, foi derrotado nas eleições de 4 de julho deste ano, mas sua posse será apenas em 1° de dezembro. A Ciranda e a Caros Amigos participaram de uma missão internacional de monitoramento das recentes eleições – Comissão Internacional de Comunicação e Observação de Direitos Humanos, composta por jornalistas e acadêmicos da Itália, Argentina, Suécia, Espanha, Uruguai, além das brasileiras. Mais informações sobre Oaxaca são encontradas no site da Ciranda.
Todos esses anos, organizações humanitárias mexicanas e internacionais, tem procurado o governo de Ulises Ruiz para tentar acabar com o estado militar de Oaxaca. Ele isenta o governo de qualquer responsabilidade, neste final de sua administração, dizendo que são “enfrentamentos”, como se fossem lutas internas, enquanto recrudesce a militarização, não importa quem paga as armas e balas gastas por um só lado.