Com a participação de mais de uma centena de representantes de organizações sociais preocupadas com os impactos da pandemia de coronavírus, uma assembleia online do Fórum Social das Resistências decidiu ontem adiar, mas não cancelar, o evento presencial tradicionalmente realizado em janeiro na cidade de Porto Alegre. Outra assembleia ocorrerá no dia 15 pelo mesmo motivo, desta vez reunindo organizações do Fórum Social Justiça e Democracia para definir alternativas. Os dois fóruns ocorreriam ao mesmo tempo e com as principais atividades unificadas entre 26 e 30 de janeiro, preparando também o caminho para o evento mundial centralizado este ano no México, o Fórum Social Mundial, programado para a primeira semana de maio de 2022.
A necessidade de suspender atividades presenciais cria um dilema para as organizações do Fórum. A chegada a variante omicron não é apenas o motivo do adiamento mas é também um tema central nos atuais debates do Fórum Social, em campanhas que vão do mundo do trabalho às organizações de saúde, com foco nas populações mais vulneráveis. Além de afetá-las violentamente, a pandemia dificulta as formas de pressão habituais – mobilizações comunitárias, manifestações no Congresso e poderes públicos e protestos de massa nas ruas – que são instrumentos populares fundamentais para a garantia de direitos. No momento em que a população mais precisa levantar sua voz para proteger-se da pandemia – e as marchas do FSM têm o papel de aumentar o volume – , mais ela se vê exposta ao coronavírus.
Outro assunto inadiável para os movimentos sociais no Brasil é o desmonte do Estado brasileiro nas mãos de um governo que desdenha da pandemia, promove desinformação e fanatismo, além de caminhar na contramão das exigências mundiais para a proteção da humanidade e do planeta. O período eleitoral, embora não seja tema do FSM, já vinha mobilizando organizações devido à campanha Fora Bolsonaro – que permeia a participação brasileira no evento – e a presença de Lula, que estava programada para a abertura e também foi suspensa.
Todas estas urgências levaram as organizações do Fórum a manter a mobilização para um evento presencial agora postergado para o final de abril e uso dos recursos da internet para manter os principais debates programados para janeiro, por meio de assembleias de convergência online em seus temas principais. Parte da programação, sobre lutas do povo negro e das mulheres, por exemplo, seguia em construção.
Na agenda internacional, a convergência em torno da solidariedade com o povo palestino deve ter destaque na assembleia de resistência ao imperialismo e também nos debates sobre o papel da comunicação nas lutas por democracia. Os debates contarão com a participação do Monitor do Oriente Médio, o Fórum Latino-Palestino e a organização Amigos da Palestina, ao lado de organizações brasileiras e gauchas mobilizadas pela Federação Árabe-Palestina (Fepal) e Cebrapaz.
Na pauta sobre mídia e democracia, os debates online estão sendo programados por organizações do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Ciranda, CUT, Abraço, Abong, Ouvidoria Cidadã da EBC, entre outras. Também devem ser mantidas atividades puxadas pelo Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe (Ceeal) e diversas entidades ligadas à educação, conectando as diferentes lutas sociais com os legados do educador Paulo Freire. Organizações dos diferentes eixos do FSR foram convidadas a fazer essa reflexão e contribuir em uma assembleia conjunta. A educação, defendem as entidades promotoras, é fundamental para barrar o avanço do obscurantismo político e cultural no mundo.
Esta não será a primeira experiência do FSM em reprogramar um evento que sempre foi presencial para uma intensa programação online. Em janeiro de 2021, também devido à pandemia de covid-19, o evento mundial foi inteiramente realizado de forma virtual, com plataforma centralizada de inscrições e programação e envolvimento das organizações participantes na ativação de múltiplas plataformas de atividades autogestionadas.
Mesmo adiado em Porto Alegre, o FSR deve manter sua versão virtual em janeiro, com grandes assembleias sobre saúde, direitos socioambientais, soberania alimentar, mundo do trabalho, comunicação e cultura. O FSJD, a partir do dia 15, definirá sua agenda de atividades sobre Justiça e Democracia e os próximos passos do Fórum, apostando no recuo da pandemia para a organização de eventos presenciais.
Em sendo realizado no final de abril, os fóruns de Porto Alegre terão uma forte conexão com as manifestações do 1º de Maio no Brasil e no mundo e com a realização, nesse mesmo dia, da Marcha de Abertura do Fórum Social Mundial 2022 na Cidade do México.
Anexo: Fórum Social das Resistências 2016 [Arquivo FSM]