Neste romance em que Dostoievski atingiu a totalidade do movimento dramático, teve por inspiração básica o momento histórico e filosófico vivido pela juventude russa nos anos 1870 do século XIX que, partindo de uma crítica romântica da realidade russa e do desejo da construção de uma sociedade igualitária no futuro, chegavam muitas vezes ao niilismo e ao terrorismo político.
Ao buscar erguer um paraíso na Terra e na tentativa de impor esse paraíso às outras pessoas, Dostoievski aponta o dedo para o “demônio assassino”, que com sua arrogância e seu autoritarismo, conduziria isto sim, à destruição do próximo.
O caso real que propiciou o foco narrativo foi o assassinato do estudante Ivanov, participante de um núcleo anárquico-socialista. Ora, Nechaiev era discípulo de Bakunin e com ele havia escrito o “Catecismo de um Revolucionário”, obra exemplar de maquiavelismo político, no dizer de Engels. Após o bárbaro assassinato de Ivanov, Bakunin rompeu politicamente com Nechaiev e realizou uma profunda autocrítica.
Os “demônios” de Dostoievski são niilistas e, esse modo de encarar um mundo que se desfaz, termina com que tudo neguem, até mesmo o amor, a amizade, a honra e a verdade.
Muitos buscam na interpretação da obra um alerta contra o socialismo. E ele realmente existe, tanto do ponto de vista do ateísmo quanto do poder! Dostoievski, como um profeta cristão, visualiza muitos dos desvios que o socialismo russo real viria a apresentar até o seu esfacelamento, na década de 1980.
Carlos Russo Jr.
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