08 de julho de 2009, da Vila setembrina, Bruno Lima Rocha
O último domingo (6 de julho) foi de intensa atividade política e midiática na Província de São Pedro. Não houve convenções partidárias nem reuniões de cúpulas dirigentes. O frenesi teve como causa o somatório sempre explosivo de investigação policial, desconfiança política (na base da delação) e cobertura jornalística. Outra vez mais ocorreu o “vazamento” de documentação oficial do Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul (MPF/RS) que se debruça na investigação das contas de campanha e negócios de governo nos primeiros anos do mandato de Yeda Crusius (PSDB). Com isso, se confirma a suspeita coletiva de que o “garganta profunda” dos pampas é um ex-homem de confiança dos herdeiros políticos de Nelson Marchezan (pai), o empresário tucano Lair Ferst.
Não teria sentido reproduzir fatos já publicados em um breve artigo de análise. Para os leitores desse blog, indico a versão digital da edição impressa do jornal Zero Hora (Grupo RBS), da última terça (07/07, págs. 4 a 10) e segunda (06/07, págs. 6 a 10). Lá se encontram reproduções de cartas e atas do MPF citando os vinte fatos investigados a partir da denúncia do mesmo informante.
Destaco como relevante nesse imbróglio o clima de suspeita coletiva, gerando sensação semelhante a que se vive no nobre e ilibado Senado federal. Se forem verídicas as denúncias de Lair Ferst, então nos deparamos no Rio Grande com negócios privados com dinheiro público mediante troca de favores; suborno; caixa dois de campanha; enriquecimento ilícito; licitações fraudulentas; tráfico de influência; uso de testas de ferro, laranjas e intermediários de propinas sistemáticas; aquisição de patrimônio; e nomeações para cargos de confiança com o intuito de controlar o desvio de recursos diversos. Os protagonistas destas reportagens, todos publicados em jornal impresso são: líderes de partidos políticos e titulares do primeiro escalão estadual; agências de publicidade; prefeitura de cidade-pólo; construtoras e empreiteiras de obras públicas e empresas fumageiras.
Se forem corretas as informações, estas materializam dois conceitos que este analista vem defendendo há mais de uma década. O primeiro é que o Jogo Real da Política inclui manobras lícitas e ilícitas, em distintas escalas de grandeza (do assédio moral ao assassinato), passando por regras formais e informais, como a espionagem. O outro conceito também de minha modesta autoria, é a de que uma candidatura e seu respectivo bloco de alianças e apoiadores formam um Consórcio Econômico-Eleitoral, onde metas programáticas são complementadas por benefícios para pessoas físicas e jurídicas, obtidos de modo legal ou não.
Ao aplicar estas categorias como modelo explicativo da “crise” política gaúcha, conclui-se o óbvio. Com boa parte do primeiro escalão sob suspeita, a “governabilidade” está por um fio.
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