O que comemos?

Parece surreal, mas é pura realidade. Literalmente não sabemos o que ingerimos e ficamos a mercê, muitas vezes, de propagandas enganosas, de que nos alimentamos de legumes e vegetais saudáveis, que nos são vendidos no dia a dia. No entanto, parte deles contém substâncias prejudiciais à saúde, que obviamente não estão descritas nos rótulos. É essa a conclusão ao se ler os resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para) – , divulgados neste mês, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

De um total de 3.130 amostras, 29% registraram algum tipo de irregularidade, como utilização de substâncias proibidas ou em quantidade acima da permitida pela legislação vigente.

Para a maioria da população, como eu e você, que é leiga, quanto a esse assunto, descobrir que come substâncias tóxicas, como endossulfan (em pepinos e pimentões), acefato (em cebolas e cenouras) e metamidofós (em alfaces, cebolas e tomates), é atestar que sofreu um atentado ao direito do consumidor, cidadão, ou melhor, aos direitos humanos. O relatório aponta que a quantidade expressiva desses componentes pode causar, desde problemas neurológicos até câncer. E quem paga a conta no bolso e na qualidade de vida? Nós.

No balanço das avaliações, os campeões de irregularidades foram o pimentão (80% das amostras), uvas (56,4%), pepino (54,8%) e morango (50,8%), segundo a Anvisa.

Diante disso, o mais revoltante é a sensação de ser lesado por um mecanismo de produção deficitário. Resta mudarmos nosso padrão de consumo, indo em busca das “origens”, como verdadeiros rastreadores. Nessa peregrinação, os produtos orgânicos ganham relevância. Experiências de se adquirir a produção de agricultores que plantam em áreas de linhões de concessionárias de energia, como acontece em São Paulo, são interessantes, como também a possibilidade de cultivar a horta caseira.

Mais uma medida de suma importância é quanto à higiene, no ato da lavagem antes do consumo. Devemos ainda cobrar dos mercados uma postura ética com o consumidor, ao não permitir que em sua cadeia haja fornecedores que não mantenham boas práticas de produção. E cobrarmos uma legislação e fiscalização mais duras, que não fiquem reféns de brechas jurídicas, que punem, na verdade, a sociedade.

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