O atual cacique da aldeia Tenondé Porã, na região de Parelheiros, em São Paulo, é o jovem Ataíde Gonçalves Papá Mirin, de 24 anos, que também atua como conselheiro na Comissão Nacional da Juventude Indígena. Em entrevista ao Blog Cidadãos do Mundo, concedida em agosto deste ano, ele conta quais são os anseios e desafios de seu povo, no século XXI.
Cidadãos do Mundo – Ataíde, conte um pouco de sua história.
Ataíde – Tenho quatro irmãos e quando tinha entre 12 e 13 anos já fazia trabalhos voltados para a educação. Eu me formei como educador, quando estava no Espírito Santo. Há um ano sou cacique, aqui, e antes fui coordenador do conselho guarani local. A liderança anterior foi do cacique Timóteo.
Cidadãos do Mundo – Quais são seus anseios como nova liderança?
Ataíde – Eu tenho vontade de adquirir mais conhecimentos para a minha comunidade. A vida é uma aprendizagem. Nossa maior preocupação é cuidar para que nossos jovens não caiam no mundo e se entreguem para as drogas. Já fiz antes trabalho em três aldeias voltados para essa questão e ainda tenho muito a aprender para orientar a minha comunidade. A liderança, como o pai de família, passa os conhecimentos por gerações.
Cidadãos do Mundo – Que elos há entre o seu povo e outros que falam guarani no Brasil?
Ataíde – Nosso elo é a luta pelo território. No nosso caso, hoje somos 1,2 mil pessoas distribuídas em um território de 26ha, que se tornou pequeno, e é um desafio. Na década de 80, cerca de 90 pessoas de meu povo seguiram para cá e formaram nossa aldeia. Daí houve mais migrações vindas do PR e ES. Atualmente a maioria da população local (70%) é de crianças e adolescentes. Outra luta em comum é pela saúde e educação e para ter o espaço de nossa cultura valorizado pelos não-indígenas.
Cidadãos do Mundo – A educação bilíngue ajuda nesse processo?
Ataíde – A educação bilíngue é importante para que a gente consiga reivindicar em português e em tupi-guarani e para compreender os documentos escritos dos brancos. Hoje nosso povo frequenta duas escolas. Na municipal, as crianças de 0 a 6 anos aprendem nossa cultura índigena, e a continuação é na estadual, onde começam a aprender português.
Cidadão do Mundo – Como você faz para ter uma comunicação contínua com outros jovens indígenas, já que participa da Comissão Nacional da Juventude Indígena?
Ataíde – Hoje o orkut é um dos principais elos de comunicação, além do MSN. Na minha lista, tenho quase 1 mil participantes, sendo a maioria indígenas.
(Ataíde concedeu a entrevista antes do lançamento do livro Psicologia e Povos Indígenas, do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo)
O pensamento de nova liderança indígena
essa matéria mostra ao leitor coisas muito importantes que geralmente não são mostradas em outras!!!
parabéns pela belo material apresentado.
De:Prof° Washington,do Instituto de Jornalismo da Universidade de são Paulo(USP)