O mito da técnica substituindo a política
03 de fevereiro de 2010, da Vila Setembrina, Bruno Lima Rocha
A possibilidade de que o candidato a vice-presidente da economista Dilma Roussef seja o banqueiro Henrique Meirelles vem mexendo com os sentidos de muita gente. Uma parte dos especialistas insiste em anunciar o presidente do Banco Central e ex-número 01 mundial do Banco de Boston não como um político e sim como técnico. Trata-se do senso comum de um neoliberalismo vulgar que, repetido mil vezes, ganha ares de rigor e alguma veracidade. Afirmo que não existe separação entre “técnica” e política em nenhuma área da sociedade, menos ainda nas grandes decisões econômicas. Infelizmente, mascarar opções de usufruto do Estado para fins privados não é novidade. Tampouco o é a hipótese de que Mr. Meirelles saia como sucessor de Luiz Inácio.
Lembro de haver participado de programa de TV em rede estadual na noite do segundo turno das eleições municipais de 2008. Na ocasião, um dos colegas de bancada levantou a hipótese de Meirelles correndo para a presidência ou compondo chapa e reforçou-a no mito da candidatura “técnica”. De minha parte, disse que caso isso ocorresse, sendo o homem forte da Banca uma pessoa de consenso no sistema financeiro internacional, seria o fim da política. Sigo dizendo o mesmo.
O tema da identidade política se funde na trajetória de cada operador. Uma pessoa tem origem em determinado setor da sociedade, mas no momento em que sua atividade implica tomar e participar de decisões fundamentais, passa a fazer política. Quando o exercício da política ultrapassa os muros do empreendimento privado e necessita de reconhecimento e legitimidade, esta pessoa passa a portar um tipo de representação. Nesse sentido Meirelles é tão “técnico” como o são ou foram os economistas Yeda Crusius, José Serra, Carlos Crusius, César Maia, Dilma Roussef, Guido Mantega, Aloizio Mercadante, Dílson Funaro, Zélia Cardoso, Roberto Campos, Antonio Delfim Netto dentre dezenas de tantos outros que já ocuparam postos-chave no Brasil, com ou sem o voto na urna.
Ao afirmar ser Henrique Meirelles um “técnico”, estes que reverberam o absurdo, posicionam as decisões da política econômica no universo de um jogo de regras pré-determinadas. Para desespero dos que atuam na área da economia política, ainda ousam chamar o receituário do endividamento público através da jogatina dos títulos de “regras da economia”. Bem, nesse sentido, para pouco ou nada ser transformado a partir de 1º de janeiro de 2011, nada melhor do que manter o jogo sob controle dos grandes jogadores. Proporcionalmente, seria o mesmo que ter Pedro Malan como vice de Serra em 2002. Talvez para ambas as candidaturas, fosse ao menos mais sincero. Para os de fraca memória, Meirelles fora candidato tucano no mesmo ano, sendo eleito deputado federal pelo PSDB de Goiás.
Sua presença no governo Lula segue o padrão de alianças e de justificativas. No Congresso justificam o vale-tudo de Sarney e Cia. dizendo ser impossível governar sem maioria. Já na política econômica, e agora na corrida eleitoral, segue a ladainha de que o banqueiro tucano é “técnico” e não um operador político de âmbito internacional.
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