Foi uma ativista dos movimentos culturais de São Paulo quem chamou minha atenção ao problema. Ela fez um comentário breve, compartilhando outro comentário de alguém protestando sobre a incineração de livros pela Biblioteca Municipal de Pinheiros. Os números eram um pouco exagerados (2/3 do acervo) e logo desmentidos, mas fui verificar mais a fundo.
A situação é grave, há sim um processo de incineração de livros por parte das Bibliotecas Públicas de São Paulo e ele não se restringe somente à Biblioteca de Pinheiros. Vou preservar as fontes, mas segue o relato o que apurei:
a) Primeiro retiraram livros da rubrica de Investimento/Material Permanente e os transferiram para a Rubrica de Custeio (a mesma de material de escritório, papel higiênico, etc), tornando livro um produto de uso rápido e sem a necessidade de incorporação ao patrimônio público. Como consequência, a facilitação nos processos de descarte. O argumento para tal medida: processos de restauro e conservação de livros estavam ficando custosos e não havia pessoal;
b) Esta medida vem de alguns anos (ainda não consegui confirmar em qual ano) e vem sendo acelerada nos últimos meses, como preparação para o processo de transferência das Bibliotecas Públicas para gestão privada, via Organizações Sociais;
c) há muitos anos a prefeitura de São Paulo não realiza concurso público para bibliotecários, o quadro está envelhecido e atualmente não alcança a média de 2 bibliotecários por biblioteca pública;
Isto é muito grave!
E revela um completo descaso com um dos alicerces de qualquer política cultural. Bibliotecas Públicas estão entre as primeiras Instituições Públicas da Humanidade (vide a biblioteca de Alexandria) e foi a partir da transferência da Biblioteca Real Portuguesa (com 8 milhões de volumes) que o Brasil ganhou sua primeira Instituição Cultural. Bibliotecas devem ser perenes, sólidas, e se constituem em nossa ponte de diálogo com as gerações futuras. Desmantela-las é o mesmo que abandonar, ao mesmo tempo, o nosso passado, presente e futuro.
O caso da incineração dos livros das Bibliotecas em São Paulo exige apuração urgente. Como primeira medida, solicitar informações precisas sobre o que está ocorrendo (via vereador ou lei de acesso à informação). Na sequência, que todos se unam na defesa do Sistema Municipal de Bibliotecas Públicas, tão bem planejado e inicialmente executado por Mario de Andrade, quando diretor de Cultura do município (isto, há 80 anos). Independente de questões partidárias ou qualquer interesse menor, precisamos esclarecer e resolver de pronto esta questão. Quem vem junto?