Existem muitos “Ches” espalhados pelo mundo. Para alguns, é apenas um rosto altivo, barbudo e vestindo uma boina com uma estrela, estampado numa camiseta vermelha. Para a CIA, Che era um inimigo perigoso, que deveria ser eliminado. Para os camponeses da região onde lutou na Bolívia, era um santo “(…) como Jesus, sacrificou sua vida para salvar os pobres”, diz um dos trechos da obra. Che era tudo isso, e também era médico, pai e comandante. Mas quem, afinal, foi Ernesto Guevara de la Serna?
O guerrilheiro nascido a 14 de junho de 1928 tem sua biografia desvendada no manhwa (quadrinho coreano) de Kim Yong-Hwe – que dissipa qualquer crítica sobre “um coreano falando da América do Sul” com uma pesquisa acurada e perspectiva histórica, enquanto equilibra referências pop como Matrix e a banda Rage Against The Machine, além de citações de Jean-Paul Sartre e François Mitterrand.
Argentino de Rosário, mas cidadão do mundo, Ernesto nasceu numa família com conforto econômico, sustentada pelo pai arquiteto. Aos dois anos de idade Ernesto começou a ter os ataques de asma que o acompanhariam por toda a vida. Formado em medicina, partiu com o amigo Alberto Granados por uma viagem de motocicleta pela América Latina, quando começou a entender os mecanismos que regem a dependência entre os países subdesenvolvidos da região e os Estados Unidos.
Depois da prova necessária para conseguir a licença de médico, na Argentina, Guevara viajou até o México para encontrar-se novamente com Granados. Durante essa nova jornada, Che aprofunda sua visão da realidade latino-americana: esteve na Guatemala no auge da PBSUCCESS, sangrenta operação orquestrada pela CIA para destituir o progressista presidente guatemalteco Jacobo Arbenz Gusmán.
Abalado com a ferocidade da ação norte-americana em território estrangeiro, Che decide optar pela revolução como única forma de libertar a América Latina. Depois de conhecer Fidel Castro no México, em julho de 1955, resolve juntar-se aos insurgentes cubanos – e em novembro do ano seguinte é um dos comandantes da milícia armada que se instala em Sierra Maestra e que termina por derrubar o ditador Fulgencio Batista em 1959.
Após a vitória em Cuba, Che torna-se embaixador do país e viaja pelo mundo tentando encontrar países que possam ser aliados ao novo regime instalado na ilha – foi durante essas viagens que Che recebeu a Ordem do Cruzeiro do Sul em 1961, do então presidente brasileiro Jânio Quadros. Porém, decepcionado com o trabalho diplomático, Guevara renunciou ao cargo e resolveu voltar a vocação de guerrilheiro.
Após uma breve e malsucedida incursão pelo Congo, Che segue para a Bolívia em 1966. Porém, sem o apoio do governo cubano nem do Partido Comunista boliviano, a guerrilha fracassou e Guevara foi capturado e executado pela CIA em 09 de outubro de 1967. Ali morria um homem e nascia um mito.