Nova arma proibida – mas não para todos
Representantes de 109 países reuniram-se em Dublin, na Irlanda, e aprovaram por unanimidade um tratado que proíbe o uso de bombas de fragmentação segundo a Lei Internacional. A partir de meados de 2009, a nova lei será aplicada, mas alguns dos países que mais produzem e possuem bombas de fragmentação, como os Estados Unidos e Israel, se opuseram ao acordo, não enviaram representantes a Dublin e não comentaram sobre o resultado.
Jakob Wellenberger, presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, afirmou que o acordo “irá prevenir muito sofrimento humano ao tornar as bombas de fragmentação ilegais”. Dezenas de grupos de direitos humanos faziam campanha há tempos para que se chegasse à proibição dessas bombas. Finalmente, vetou-se o uso de uma das armas mais mortíferas e incontroláveis dos arsenais atuais. Mas os Estados Unidos, principal produtor dessas bombas, e Israel, principal consumidor, lideraram uma campanha contra o acordo, boicotando as negociações e rejeitando o resultado final. Os aliados incondicionais tentaram convencer o Reino Unido a tomar a mesma medida, e o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, até parecia que iria ceder às pressões. Mas no momento crucial das negociações, o Reino Unido anunciou que iria eliminar todo seu arsenal de bombas de fragmentação: “Foi um grande passo para fazer do mundo um lugar mais seguro”, disse Gordon Brown sobre o acordo final.
As bombas de fragmentação são bastante criticadas pelo potencial de vitimar inocentes, uma vez que não se tem controle sobre onde explodirão. Depois de lançadas, elas se abrem e distribuem dezenas de minibombas por uma vasta área, comparada a um estádio de futebol. Muitas dessas bombas não explodem de imediato (cerca de 25%), e permanecem sob risco por décadas. Um exemplo recente do poder de destruição dessas bombas aconteceu com a invasão israelense do Líbano em 2006. Mais de 1400 civis foram mortos no mês que a invasão durou, e desde então ao menos 100 morreram e 218 foram feridos por bombas que não haviam explodido. De acordo com a ONU, Israel lançou 4,3 milhões de sub-munições de bombas de fragmentação no Líbano, das quais mais de 1 milhão não explodiu. Os Estados Unidos, que fornecem essas bombas a Israel por mais de três décadas, fabricaram todas as bombas utilizadas por Israel.
Além de terem se comprometido a não usar esse tipo de armamento, os países presentes à reunião em Dublin concordaram em destruir os arsenais dessas bombas nos próximos 8 anos. Mas ao que tudo indica, Estados Unidos e Israel ainda vão lutar contra a aplicação do acordo. “Eles concordam com o banimento das bombas, mas querem o período de 10 a 15 anos para assinarem o tratado. Durante esse tempo, [querem continuar] usando, estocando e até produzindo [essas bombas]”, disse Daniel Mack, em nome de uma rede de mais de 250 ONGs chamada Coalizão Contra as Bombas de Fragmentação, presente em Dublin.
De fato, os Estados Unidos ainda usam diariamente essas bombas nas ocupações do Afeganistão e do Iraque, e vendem milhões de dólares mensais dessas bombas para Israel. É difícil prever qual será a conduta dos “aliados incondicionais” quanto a essa questão, mas de qualquer maneira, até meados de 2009, as bombas de fragmentação continuarão a destruir cidades no Afeganistão, Iraque e nos vizinhos de Israel.
FONTE:
Jornal Oriente Médio Vivo – http://www.orientemediovivo.com.br
Edição nº106 – http://orientemediovivo.com.br/pdfs/edicao_106.pdf
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