Terrorismo midiático – quando a imprensa repercute um assunto de forma a alarmar a sociedade e não informar – é o que defendeu o Editor Executivo da revista Caros Amigos, Mylton Severiano, o Myltainho, no primeiro fim de semana que teve início o 2o Anticurso de Jornalismo: como não enriquecer na profissão, no dia 8 de março em São Paulo.
Ele é a favor de uma legislação que puna atos de terrorismo midiático praticados por jornalistas, além de afirmar que a ditadura militar não acabou e continua até hoje. Mylton Severiano não é contra a existência de escolas de jornalismo, mas sim contra a exigência de diploma para exercer a profissão; ele também defende a mídia independente em vez daquela que se chama de alternativa, e, é a favor da pena de morte – apenas para aqueles que defendem a pena de morte.
São com essas afirmações iniciais que Myltainho abriu a discussão para um público diversificado de estudantes, jornalistas, leitores e interessados em geral que se inscreveram no Anticurso da Caros Amigos.
Mylton Severiano nasceu em Marília, no interior de São Paulo, há 68 anos. Já trabalhou em diversos veículos, entre eles a Folha de São Paulo, Estadão, a revista Realidade, a Rede Globo, TV Cultura, TV Tupi, atualmente mora em São Paulo e está há seis meses como Editor Executivo da Caros Amigos. Publicou seu primeiro artigo aos 8 anos no jornal Terra Livre feito pelo Partido Comunista.
Sobre o diploma na profissão “é uma sacanagem”, diz. “A maioria dos professores são frustrados na profissão, o jornalismo é uma profissão de vocação – comunicar, querer dizer o que está acontecendo, dar voz a quem não tem voz”. Ele defende também a mídia independente em vez da chamada ‘alternativa’. “A grande mídia que é subsidiada pelas multinacionais não vai ofender os anunciantes, e a Caros Amigos nunca vai sair do vermelho, é o preço que ela pagou para ser independente”.
Sobre a provocação da permanência da ditadura militar nos dias de hoje, Myltainho confirma: “a ditadura formalmente vai de 1964 a 1985, confesso que eu fiquei bravo, tomaram 21 anos da minha vida. Ela se foi formalmente, é mais uma provocação. Todos os veículos que apoiaram o golpe militar estão até hoje, são as famílias que mandam. A Globo é filhote legítimo da ditadura, nasceu em 1965. A herança ditatorial é grande, nós ainda vamos ter que caminhar muito até chegar a uma democracia”.
Para ele, a ditadura militar continua – “qual é o país no mundo onde a polícia é militar? Que historia é essa? A polícia tem que ser civil, na minha utopia a gente não precisaria de polícia, e a PM se comporta a revelia do poder civil”.
É o caso dos movimentos sociais, classifica Myltainho, “a grande mídia só cobre quando eles são reprimidos ou quando invadem algum lugar”. E acrescenta, “é uma vergonha um país como esse que tem mais terra agriculturável que a China (que alimenta um bilhão de pessoas) e o Brasil com 180 milhões de habitantes tem 40 milhões de famintos. A grande mídia ainda criminaliza os movimentos sociais, qualquer coisa social que se faz nesse país é atropelado. O Estado brasileiro só entra na favela a pontapés como o Bope [em referência à tropa de elite da polícia militar do Rio de Janeiro]”.
E sobre o terrorismo midiático, Mylton Severiano acredita que a mídia tem que ter normas e regras – “os criminosos de terrorismo midiático perderam o censo do que é jornalismo, do que é ética, e isso não é apenas um fenômeno brasileiro é universal. A VEJA se desviou pelo caminho. Aquilo não é jornalismo, é panfletagem da pior espécie”.
No próximo artigo, os jornalistas Cláudio Tognolli e Hamilton de Souza discutem o jornalismo como uma profissão mistificada, a possível crise da forma de se fazer e de se pensar o jornalismo, a revolução da profissão pelas novas tecnologias, como a internet, o ensino do jornalismo e a exigência do diploma.
Cláudio Tognolli é diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), professor da USP e repórter especial para a revista Consulto Jurídico, além de escrever para a Caros Amigos e a Galileu.
Hamilton de Souza leciona na PUC-SP, foi diretor do Sindicato de Jornalistas Profissionais de São Paulo, ganhou o prêmio Wladimir Herzog de Direitos Humanos em 1981, foi editor da revista Sem Terra do MST, e escreve no jornal Brasil de Fato e também na Caros Amigos.
Por Fabíola Ortiz,
19 de março 2008.