Entre os dias 8 e 18 de março, as mulheres brasileiras mostraram, mais uma vez, sua força e organização. Nos onze dias de marcha, entre as cidades de Campinas e São Paulo, as caminhantes demonstraram que a luta feminista está mais viva do que nunca. Sob o lema “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres”, a mobilização reuniu mulheres vindas de todos os estados brasileiros, de diferentes raças, idades e origens. Além de reforçar a diversidade existente em nossa sociedade, a realização da marcha foi um exemplo de auto-organização das mulheres e, com certeza, fortaleceu e seguirá fortalecendo nossa luta.
Participaram da Marcha cerca de 3 mil mulheres vindas de todos os estados do país. A Ação contou também com mulheres de diversos movimentos sociais como CUT, Contag, MST, UNE, MAB e MMC.
A Ação foi construída integralmente pelas mulheres, que se dividiram em equipes de cozinha, limpeza, infra-estrutura, segurança, comunicação, formação e cultura, saúde, água e creche. A cozinha permaneceu fixa em Cajamar e o transporte do almoço e do jantar foi feito por caminhões. Além das equipes, as delegações se revezaram para os trabalhos de limpeza dos alojamentos e cozinha.
A caminhada de 11 dias também demonstrou a solidariedade das brasileiras às mulheres do Haiti após o terremoto que atingiu o país em janeiro. Houve coleta de contribuições para a reconstrução da ação das mulheres da MMM no Haiti e do movimento feminista do país.
Dia a dia
Durante os onze dias de caminhada, as mulheres passaram pelas cidades de Campinas, Valinhos, Vinhedo, Louveira, Várzea Paulista, Cajamar, Jordanésia, Perus, Osasco e São Paulo. Na abertura, marcando o centenário da proposição do Dia Internacional da Mulher, um grande ato público no centro de Campinas deu início à caminhada. No dia seguinte, as mulheres marcharam até Valinhos e deram início à programação de debates, oficinas e demais atividades de formação e culturais, realizadas pelas próprias marchantes.
Foram abordadas questões como trabalho doméstico; saúde da mulher e práticas populares de cuidado; sexualidade, autonomia e liberdade; educação não sexista e não racista; economia solidária e feminista; soberania alimentar, reforma agrária e trabalho das mulheres; agroecologia; biodiversidade, energia e mudanças climáticas; políticas de erradicação da violência doméstica e sexual; tráfico de mulheres e direito ao aborto.
As caminhantes participaram ainda de um ato público na cidade de Várzea (13/3), onde foi lançada a publicação “As origens e a comemoração do Dia Internacional das Mulheres”, uma tradução coletiva do livro de autoria da historiadora espanhola Ana Isabel Álvarez González, publicado pela SOF (Sempreviva Organização Feminista) e pela Editora Expressão Popular.
A Marcha contou com duas participações especiais. No dia 11, em Louveira, a feminista brasileira, radicada na França, Helena Hirata, debateu o trabalho das mulheres e a autonomia econômica, apontando questões centrais para uma transformação estrutural na sociedade que supere a desigual divisão sexual do trabalho. E em Perus, no dia 16, Aleida Guevara, médica cubana e filha de Ernesto Che Guevara, falou sobre o processo revolucionário de Cuba. Neste dia, as militantes entoaram com mais força uma das principais palavras de ordem desta caminhada: “Sou feminista, não abro mão do socialismo e da revolução!”
Após passar por todas as cidades, as mulheres chegaram à São Paulo. O último dia de caminhada foi marcado pela batucada feminista, que esteve a frente da caminhada com cerca de 150 jovens, sintetizando os ritmos e palavras de ordem entoados pelas caminhantes ao logo de toda a marcha.
O último dia contou também com as “Caminhantes”: duas bonecas com vestidos confeccionados em oficina pelas mulheres de vários estados, juntamente com a artista Biba Rigo. As Caminhantes sintetizam as lutas das mulheres brasileiras e tem dois destinos programados. O primeiro é a Ação regional da Marcha Mundial das Mulheres na Colômbia, contra a militarização do continente. O segundo destino é a República Democrática do Congo, no encerramento da 3ª ação internacional, em 17 de outubro.
A 3ª Ação Internacional continua!
A 3ª Ação Internacional tem como eixos principais quatro campos de ação que falam diretamente à realidade das mulheres: autonomia econômica, violência contra a mulher, paz e desmilitarização e bens comuns e serviços públicos. Os eixos foram adaptados à realidade das mulheres brasileiras e deram os contornos da plataforma política apresentada à sociedade a ao Estado. Entre as reivindicações estão: a criação de aparelhos públicos que contribuam com a socialização do trabalho doméstico, a não privatização de nossos recursos naturais, o aumento do salário mínimo, o fim de todas as formas de violência contra a mulher, a realização da reforma agrária e a legalização do aborto.
A mobilização é parte do calendário da 3ª Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, que acontece entre 8 de março e 17 de outubro de 2010. No primeiro período, mais de 20 países fizeram atividades de lançamento da 3ª ação, manifestações públicas e marchas de diferentes formatos. O encerramento da 3ª Ação Internacional será em Kivu do Sul, na República Democrática do Congo. Realizadas de cinco em cinco anos, as Ações Internacionais reúnem mulheres de vários países em grandes atos, mobilizações e atividades, que têm como objetivos centrais denunciar as condições de desigualdade em que vivem as mulheres e impulsionar a luta feminista para a transformação de nossas realidades – e do mundo.