Condenado na terça-feira (6), pela juiza Tula Correa de Mello da 20ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, pela resposta que deu a uma defensora das ações de Israel que o criticou , o ex-deputado federal Milton Temer (Psol) inicia recurso contra a decisão. “Entendo estar pagando o preço de minha solidariedade ao povo palestino”.
O caso julgado aconteceu em 2018, quando soldados israelenses mataram 17 palestinos e feriram outros 1.400 na Faixa de Gaza, ataques criticados por Milton Temer, ex-deputado do Psol e defensor da causa Palestina, que foi surpreendido ao saber que a vereadora Tereza Bergher (Cidadania-RJ) estava pedindo a remoção de suas postagens do Facebook e reagiu:
“SIONISTA PATÉTICA. No meu regresso, sou informado que uma vereadora tucana de segunda linha, porta-voz do nazi-sionismo no Brasil, anda me citando. ELA ESTÁ EXIGINDO que minhas postagens de apoio ao povo palestino, e de condenação das políticas terroristas do Estado de Israel, sob a população da Palestina ocupada, sejam retiradas do Feicebuque. POIS QUE CONTINUE exigindo. Porque onde eu estiver — se essa plataforma ceder ao poder dos sionistas — vou continuar a defender o direito de povo palestino de usar até mais do que estilingues para se proteger do super-equipado exército nazi-sionista que comete violências seguidas, e incessantes, tanto na Cisjordânia quanto em Gaza”, postou o ex-deputado.
Embora não tenha sido citada diretamente no post, a vereadora entrou com uma queixa-crime, associando as críticas de Temer ao Estado de Israel a prática de antissemitismo: “Ao se referir às Forças de Defesa de Israel como ‘exército nazi-sionista de ocupação da Palestina’ … Milton Temer humilha, de forma impiedosa, toda a comunidade judaica“- alegou Bergher.
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Contrariando o Ministério Público, que recomendou a absolvição de Temer, a juíza Tula Correa de Mello aceitou o argumento, atribuiu ao acusado “o preconceito velado, a hostilidade, e grave ofensa à querelante” e entendeu que a expressão ‘nazi-sionista’ “minimiza e naturaliza o holocausto e seus efeitos na memória de todos, em especial dos judeus exterminados”.
Milton Temer soube da condenação por uma jornalista que o entrevistou, antes mesmo de a decisão ser publicada no Diário Oficial. Foi sentenciado a dois anos, dois meses e 20 dias de reclusão, além de duzentos dias-multa, e teve a pena substituída por duas outras que determinam prestação de serviços à comunidade, em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos ou outros estabelecimentos do tipo, em programas comunitários ou estatais, a serem definidas pela Vara de Execuções Penais.
O recurso defenderá o direito do ex-deputado de ” assumir posições políticas, principalmente quando essas posições estão alinhadas com defesa de povos oprimidos”. Em uma postagem após a codenração, Temer reafirmou o compromisso em não parar de se expressar contra a ocupação do território palestino pelo exército de Israel. “Fiz isso por pelo menos 60 dos meus 82 anos de vida. E não é agora que vou me transformar, diz ele, lembrando que testemunhou como deputado a situação vivida pelos palestinos, em visita que fez na época do “cerco à sede da chefia da Autoridade Palestina, onde estava encerrado Arafat”.
A experiência foi relatada por ele em artigo publicado na revista Teoria & Debate, da Fundação Perseu Abramo. “E passeei, junto com a comitiva, e com bandeira branca ao lado das brasileiras, pelas ruas vazias da cidade com suas famílias condicionadas a um período mínimo diário para comprar seus alimentos no curto tempo em que o comércio era liberado. Para garantir a ‘ordem’, tanques se mantinham estacionados nas esquinas”, lembra ele.