Eu não tenho medo dele!
Tenho medo de você, meu colega de trabalho, que partilha as dores da labuta comigo, mas acha que eu devo ganhar menos, porque sou mulher.
Tenho medo de você, minha vizinha, que, mesmo mulher como eu, acha que algumas de nós pedem para ser estupradas.
Tenho medo de você, meu parente, que carrega a bíblia para todos os lados, mas acha que o erro é torturar e não matar.
Tenho medo de você, colega de turma da faculdade PÚBLICA, que acha que não devem existir cotas, FIES, ProUni, porque preto e pobre não devem estar na faculdade.
Tenho medo de você, “””amigo””” de infância, que acha que é rico, porque ganha três salários mínimos, paga carro e apartamento financiado, mas quer o fim do assistencialismo para pobre morrer de fome ou só não quer dividir aeroporto com a “paraibada”.
Tenho medo de você, conhecido aqui da rua, que acha que a orientação sexual do seu filho é a “natural” e, por isso, desqualifica as outras formas de amor.
Tenho medo de você, parente do meu namorado, que vive da contravenção, mas acha que bandido bom é bandido morto.
Tenho medo de você, mãe do meu aluno, que nunca aparece na escola, porque ele foi racista ou homofóbico ou até mesmo só desrespeitoso com o professor, mas que esbraveja que não quer que ele veja o kit gay, aquele que nós, professores, nunca nem vimos.
Eu não tenho medo dele.
Ele é um ídolo.
Uma ideia.
Um porta-voz.
Tancredo também já foi.
Brizola também.
Collor também.
Lula também.
Eu não tenho medo dele. Ele, eu sei quem é.
Tenho medo é de você, que me rodeia, e a quem eu tenho que descobrir todos os dias.
– texto de Sabrina de Oliveira