“Marchantes” brasileiras estarão no Paraguai

Nascida no espaço do Fórum Social Mundial, a Marcha Mundial de Mulheres é uma ação do movimento feminista internacional de luta contra a pobreza e a violência sexista. Organizada desde 2000, presente desde o início da construção do FSM, onde ampliou a visibilidade das lutas das mulheres, fortaleceu-se em vários países e regiões do mundo, construindo alianças com o feminismo e os movimentos sociais.

Considerado como privilegiado espaço de formação política para as militantes da MMM, o Forum Social possibilita um saudável exercício do diálogo necessário entre feministas e demais movimentos – permeados pelas desiguais relações de gênero dominantes na sociedade -, além da troca entre marchantes de diversas culturas. No momento no Brasil, a Marcha prepara a participação das brasileiras no Forum Social Americas (FSA), entre os dias 11 e 15 de agosto, no Paraguai.

No ano em que o FSM comemorou dez anos, iniciados aqui no Brasil, nesta mesma América Latina, ocorre a quarta edição do FSA, numa América que vive debates político sociais importantes para todo o hemisfério sul. Conversamos com Nalu Faria, da Coordenação Nacional da MMM e também do Conselho Hemisférico do FSA. Ela tem acompanhado os movimentos sociais latino americanos, dos avanços na luta contra o neoliberalismo nos primeiros anos deste século, que culminou com a derrota da ALCA em 2005; e também do enfrentamento à atual reação conservadora no continente.

Integração latina necessária

Para Nalu, a resistência ao neoliberalismo “se deu a partir de uma vigorosa organização do movimento social em todas a região, que pouco a pouco foi se expressando em vitórias eleitorais em vários países, ainda que com muitas diferenças entre si”. Em comum, teriam a busca de autonomia política frente aos Estados Unidos, segundo a ativista. “Nesse processo se recolocou com força o tema da integração regional e, pelo menos ao nível dos enunciados, recorrem a contribuições dos movimentos; em particular, vários elementos colocados pelo feminismo ao longo desses anos como a questão da solidariedade, da reciprocidade, da necessidade de redução das assimetrias etc”.

Claro, isso não se deu ao mesmo tempo e nem alcançou todos os países. Os EUA continuam com muita força para “impor suas políticas em alguns países tais como Colômbia, Peru, México e vários países da America central”, lembra Nalu. Um desafio destacado pela feminista é o de como atuar frente aos governos chamados de progressistas, já que eles apresentam “muitas contradições a serem superadas, em particular na visão desenvolvimentista e exportadora extrativista; e ao mesmo tempo temos que seguir na resistência ao imperialismo”.

As forças reacionárias, imperialistas, tem buscado fortalecer-se nesta conjuntura em que está inserido este 4° FSA. “É visível a reação conservadora em particular com militarização, criminalização dos movimentos sociais e desestabilização de processos, como foi Honduras”, diz a dirigente da Marcha. “No caso das mulheres, temos enfrentado essas forças conservadoras na criminalização das mulheres que abortam e no feminicídio”. Em relação as mulheres, Nalu acha que o “que mais chama atenção nas Américas é a forte presença e mobilização das mulheres, nas resistências e na construção de alternativas. E me refiro as mulheres populares: indígenas, camponesas, negras, trabalhadoras domésticas nos EUA”.

Posicionar o feminismo

Há algumas vitórias a celebrar nos temas historicamente colocados pelas mulheres, nos lembra a feminista, o avanço da legalização do aborto no Uruguai e o direito às uniões homoafetivas na Argentina. Mas as imposições do neoliberalismo nos anos 90 ainda se manifestam no “peso do mercado sobre a vida das mulheres, que continua enorme, mas também no conservadorismo em relação ao aborto e a sexualidade em geral”.

Nestes temas, é muito diferente entre os países o nível de construção das lutas e da agenda política, por isso uma das principais demandas para este FSA é “posicionar o feminismo”, acredita Nalu. “Não só nos temas econômicos e de participação política, mas também da autonomia pessoal: violência e, o mais difícil, o tema do aborto”. Outras demandas seriam “avançar na capacidade do debate propositivo, diálogo com governos populares progressistas combinada com resistência – em particular campanha contra as bases militares e buscar avançar no debate em relação as mudanças e injustiças climáticas”.

A MMM vai fortalecida ao Paraguai, pela Ação Internacional que vem realizando desde março, quando 3 mil mulheres brasileiras marcharam durante 11 dias divulgando sua plataforma. Essa Ação vem acontecendo em vários países do mundo e terá seu desfecho em outubro na República do Congo, África. “Nós estamos em plena ação internacional da Marcha”, lembra a também conselheira do FSA. “Então, queremos apresentar o que foi a Ação até agora e a nossa visão de lutas e perspectiva feminista para as Américas. Teremos atividades próprias e outras realizadas em conjunto com movimentos aliados, como a Rede Latino Americana de Mulheres Transformando a Economia, a Via Campseina, Amigos da terra etc. Para nós, é fundamental reforçar a Assembléia dos Movimentos Sociais e da campanha contra as bases militares”.

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