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No final da década de 70, retomando uma longa e rica trajetória de lutas, o movimento negro sai às ruas para denunciar o racismo e lutar pela melhoria da condição de vida do povo negro brasileiro.
Um dos marcos dessa retomada de luta é o Manifesto a Zumbi dos Palmares elaborado em 1971, por iniciativa do Grupo Palmares de Porto Alegre. Com o surgimento do Movimento Negro Unificado, em 1978, se dá a criação do “Dia Nacional da Consciência Negra” com manifestações em todo o país.
A partir daí, o 20 de novembro passou a ser comemorado anualmente, como a data mais importante da populaçao negra brasileira.
Nesse dia, no ano de 1695, foi assassinado ZUMBI, a principal liderança do Quilombo de Palmares, um território livre, símbolo da resistência ao regime escravista e da consciência negra de homens e mulheres em busca da liberdade e da construção de uma nação.
Comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra significa reafirmar o compromisso do movimento negro com a luta por justiça social, pelo desenvolvimento e pela soberania de nosso país.
Recuperar o ideário de Zumbi não é apenas rememorar Palmares, mas resgatar um importante exemplo de luta e organização pela emancipação do povo brasileiro.
O Movimento Negro novamente nas ruas de São Paulo!
Em 1995, depois de 300 anos de seu assassinato, Zumbi é oficialmente reconhecido pelo governo brasileiro como um herói nacional.
É realizada nesse ano, no dia 20 de Novembro, reunindo em Brasília cerca de 30.000 pessoas, a Marcha Zumbi dos Palmares – contra o Racismo pela Igualdade e a Vida.
Em São Paulo, no início do primeiro mandato do Governo Lula, visualizando a possibilidade de respostas às demandas da população negra e retomando a ação política do movimento negro e sua presença organizada nas ruas, , realizamos no dia 20 de Novembro, nos anos de 2003 e 2004, a primeira e a segunda Marcha da Consciência Negra.
Em 2005, dez anos depois da vitoriosa Marcha Zumbi dos Palmares – contra o Racismo, pela Igualdade e a Vida, duas marchas para Brasília são realizadas nos dias 16 e 22 de Novembro, para comemorarmos o Zumbi + 10.
Em São Paulo, neste 20 de Novembro de 2006, que se tornou feriado municipal através da Lei 13.707 de sete de Janeiro de 2004, estamos nas ruas na III MARCHA DA CONSCIÊNCIA NEGRA convocando todas as forças do movimento negro do Estado de São Paulo, mais os partidos, sindicatos e centrais sindicais, igrejas, movimentos populares, organizações estudantis, de mulheres e de juventude para comemorarmos esse momento importante da luta em nosso país por um Brasil com soberania, com desenvolvimento social e econômico, sem racismo, discriminação,homofobia, machismo e intolerância religiosa.
Depois de mais de 118 anos da Abolição do regime de trabalho escravo, a população negra brasileira – cerca de 45,6% segundo o último censo do IBGE – continua ocupando os piores lugares.
Empregados negros ganham menos do que os brancos – até 50% menos – dependendo da região do Brasil.
Há mais desemprego entre os negros do que entre os brancos nas várias regiões metropolitanas do país.
Negros têm 2,2 anos a menos de escolaridade média do que os brancos, desde 1.929.
A indigência é 70% negra, embora os negros representem 45,6% da população. Dos 22 milhões de brasileiros que, segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), vivem abaixo da linha de pobreza, 70% são negros; entre os 53 milhões de pobres do país, 63% são negros.
As mulheres negras têm ainda maior desemprego e menor renda que os homens negros.
A mortalidade infantil tem caído mais para brancos do que para negros.
O analfabetismo é maior entre negros que entre brancos, quadro que se mantém, apesar da diminuição do analfabetismo em ambos os grupos.
O esgoto e a água tratada vão menos a lares negros do que os lares brancos.
Apenas 2% dos negros chegam à Universidade, contra 47% de brancos e 1% de orientais.
A expectativa de vida para os negros é, em média, seis anos menor que para os brancos.
Votação imediata do Estatudo da Igualdade Racial e do Projeto da Lei de Cotas
Para enfrentar essa situação de desigualdade, tramita no Congresso Nacional, há mais de 10 anos, o Estatuto da Igualdade Racial que sintetiza reivindicações históricas do povo negro. Também está para ser votado o Projeto de Lei 73/99. Ambas criam ações afirmativas, dentre as quais Cotas na Universidade, na média e no mercado de trabalho, como forma de reparação.
A votação desses projetos e a reparação dessa dívida é uma exigência de todos os que lutam por Liberdade, Justiça e Democracia, que não podem desistir enquanto a população negra continuar a ser alvo da odiosa discriminação e do racismo, no seu cotidiano.
Exigimos a votação imediata do Estatuto da Igualdade Racial e do Projeto da Lei de Cotas 73/99 que estão em tramitação no Congresso Nacional.
Contra a violência e em defesa da vida
A questão da violência policial é extremamente grave. O movimento social negro, desde a sua origem, a denunciou e a reafirma quando ela toma proporções alarmantes.
No Estado de São Paulo são crescentes os índices de violência contra os jovens, particularmente a juventude negra que vive nas periferias e bairros pobres das médias e grandes cidades.
Mais recentemente, conforme noticiaram todos os jornais, lideranças negras do Movimento Brasil Afirmativo passaram a ser vítimas de ameaças de organizações naziracistas que atacam negros, judeus, nordestinos e homossexuais. Até mesmo a Delegada de Crimes Raciais em São Paulo teve a sua foto estampada por uma dessas organizações que pregam o ódio racial e a violência.
De 1993 a 2002, o número de jovens entre 15 a 24 anos assassinados no Brasil cresceu 88,6%. Na população geral, o crescimento foi de 62,3%, índice mais de quatro vezes maior que o aumento da população no mesmo período, de acordo com os dados do Mapa da Violência IV, da UNESCO.
De acordo com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2004, o percentual de mortes violentas entre homens em 2003, em São Paulo, foi de 18,8% (maior do que o do Rio de Janeiro, que atingiu 17,2%), e acima da média nacional, que ficou em absurdos 15%.
Segundo dados do Ministério da Saúde e da UNESCO, a evolução da participação das armas de fogo em homic�ido na Grande São Paulo, incluindo a capital, passou de 45%, em 1998, para 68,8% em 2003. Apesar dos jovens (entre 15 e 24 anos) representarem 19,4% dos 38,7 milhões de moradores de São Paulo em 2003, eles estiveram relacionados a 41% dos casos de homicídios ocorridos no ano.
Contrapondo-se a esta lógica do extermínio, descaso e a irresponsabilidade governamental, exigimos o fim da violência e o respeito ao direito a vida
Cotas na Cultura Já!
Muitas das atividades culturais só abrem suas portas para os mais afortunados. A meia entrada, garantida aos estudantes, apesar de se caracterizar como incentivo à cultura, não atende a demanda e as necessidades de acesso de pobres e negros em metrópole nas proporções de São Paulo onde o custo do transporte para a locomoção é alto e a renda per capita das famílias é baixa. As atividades culturais bem conceituadas, cobram de R$15,00 (quinze reais) a R$200,00 (duzentos reais) por ingresso. Isto exclui, radicalmente, os menos favorecido.
Propomos a aprovação de leis que democratizem o acesso aos espaços culturais para pobres e negros.
Melhoria da Escola Pública
A Educafro – Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes, uma das organizações que estão realizando esta marcha, realiza todos os anos junto ao seus alunos e universitários um censo para saber se as escolas públicas estão repeitando a LDB e a Constituição Federal, ministrando as aulas previstas, regularmente.
Segundo a Educafro, os resultados da tabulação dos formulários comprovam o descaso que o Estado de São Paulo tem com a Educação.
São alunos do ensino médio que ficaram sem professor por seis meses ou mais e, para cobrir esta falha, o Governo do Estado de São Paulo orienta as escolas a aprovarem seus alunos automaticamente com notas que não refletem o aproveitamento escolar.
O abandono das escolas públicas no Estado de São Paulo, no decorrer dos anos, forçou o Governo a editar a Resolução SE -60, de 31 de Agosto de 2006, que instituiu o funcionamento das escolas em três turnos. Isso provoca uma decadência ainda maior no já precário sistema educacional.
As demais organizações que realizam a III Marcha da Consciência Negra estão juntas com a EDUCAFRO na luta pela melhoria da escola pública.
A III Marcha da Consciência Negra
Uma marcha com a participação de todos setores da sociedade dispostos a continuar fortalecendo um amplo movimento por mudanças que consiga concretizar os sonhos que não só os sonhos do povo negro, por soberania e preservação de nossos territórios, de nossas religiões, de nossas culturas, de nossas identidades e opções sexuais, de nossos projetos de vida por um novo Brasil sem machismo, sem homofobia, sem intolerância religiosa, sem racismo, preconceito e discriminação de qualquer natureza.
Assinam esse manifesto as seguintes entidades:
Associação Brasileira de Pesquisadores Negros – ABPN/SP
Agentes de Pastoral Negros do Brasil – APNs
Articulação Política das Juventus Negras -APJN/SP
Ciranda Afro – Iniciativa Afro-Brasileira de Comunicação Compartilhada
Coletivo de EmpresáriosNegros Afros-Brasileiros-CEABRA/SP
Circulo Palmarino
Coletivo de Estudantes Negros de São Paulo – CENSP
Comissão Estadual contra a Discriminação Racial da CUT//SP
Comissão de Negros e Assuntos Antidiscriminatórios da OAB/SP – CONAD
Congresso Nacional Afro-Brasileiro – CNAB
Conselho Nacional de Yalorisas, Egbomis e Ekédis Negras
Coordenação Nacional de Entidades Negras-CONEN
EDUCAFRO
Fórum Estadual de Mulheres Negras/SP
Grupo de Negros, Negras e Políticas Públicas da Assembléia Legislativa de São Paulo- Zumbi Vive
INSPIR;
Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileira -INTECAB/SP
Jornal “Trovão” da Associação Brasileira de Negros Progressistas – ABPN;
Movimento Brasil Afirmativo
Movimento Negro Unificado – MNU
Serviço de Defesa contra o Racismo da Assemléia Legislativa de São Paulo- SOS/Racismo
Setorial de Negros e Negras da Central de Movimentos Populares – CMP/SP
Rede Nacional de Afros LGBTS
União de Negros pela Igualdade – UNEGRO.