Com uma câmera na mão, mulheres revelam que por trás das belezas naturais do Rio de Janeiro se esconde a dor de quem perdeu seus filhos para aqueles que, por ironia, deveriam proteger a segurança da população. Dar visibilidade para essas mães é a proposta do documentário “Luto como mãe”, do cineasta Luis Carlos Nascimento, que estreia no próximo dia 20 de agosto no Rio de Janeiro.
O longa retrata chacinas cometidas por policiais repercutidas em todo o país e nomeadas como as “Mães de Acari”, “Chacina da Candelária”, “Chacina da Baixada” e outras tão importante quanto essas. Durante quatro anos, Luis Carlos Nascimento acompanhou de perto junto com uma equipe de cinema o drama dessas mães, desde a coleta de depoimentos até os desdobramentos dos casos perante a justiça. Com uma “hand can” nas mãos, as mães documentaram suas passeatas, mobilizações, comemorações familiares e ainda realizaram entrevistas com maridos e familiares contribuindo para a inovação no processo de construção da narrativa do documentário. “Ignora-se que, para cada marido, cada filho, cada homem morto, existe sempre uma mulher por trás”, lembra Luis Nascimento no filme.
A visibilidade dessas mortes é passageira, dura enquanto a notícia durar. Seus rostos aparecem nas capas dos jornais, noticiários de TV sempre com uma lágrima demonstrando toda a sua dor. Mas tudo isso é momentâneo, no dia seguinte ninguém lembra mais do fato ocorrido e não sabemos o que essas mães fazem no dia a dia de suas lutas após o momento do luto. É sobre esse rito de passagem do Luto à luta que em 70 min o documentário “Luto como Mãe” vai mostrar com cenas emocionantes e envolventes essas mulheres de força, persistência, vontade de justiça e de mudança.
Elizabeth Medina Paulino, uma das mães de filhos assassinados na chacina da “Via Show”, relata no documentário que resolveu correr atrás de justiça para que isso não ocorra com nenhuma outra mãe. “A única coisa que tinha medo era perder meus filhos e agora não tenho mais medo de nada”, conta Elizabeth que esteve no lançamento do documentário em Portugal e, segundo ela, quando acabou a exibição ficou aquele silêncio, todo mundo perplexo. Só depois vieram os aplausos.
“Luto como Mãe” participou da 14ª edição do Festival Internacional do Rio (2009) – onde concorreu a três prêmios: melhor direção, melhor documentário e melhor filme do júri popular; no Festival Viña del Mar (Chile/2009); no 12ª Festival de Cinema Brasileiro de Paris (França/2010); no 1ª Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa – FESTin (Portugal/2010); na 3ª Mostra Internacional de Cinema em Língua Portuguesa, entre outros.
O documentário “Luto como Mãe” tem a direção do cineasta Luis Carlos Nascimento, produção da TV Zero, Jabuti Filmes e Cinema Nosso. O longa foi realizado em parceria com CES- Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal) e CESEC- Centro de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes e conta também com o apoio da Fundação Ford , IPAD- Instituto Português para o Desenvolvimento, Sebrae/Rj e Fase.
Diretor Luis Carlos Nascimento
‘Luto como Mãe” é o primeiro longa-metragem do cineasta que iniciou a carreira como produtor e escritor de teatro até a chegada do premiado filme “Cidade de Deus”, onde participou do elenco. Logo depois fundou a Escola Audiovisual Cinema Nosso, que conta com o apoio dos cineastas Fernando Meirelles e Kátia Lund, onde hoje é o presidente da Instituição.