Esta era Letícia Vieira Hillebrand da Silva, 15 anos. A única mulher executada no dia 13, em Osasco. (Atenção, feministas.) E a mais nova entre as 19 vítimas. (Atenção, defensores das crianças e adolescentes.) O G1 reproduziu foto da Rede Globo. É a única imagem que temos dela. Foi enterrada ontem sem que nos importássemos. Mais uma.
O G1 informa que tivemos nesta sexta-feira um ato na Paulista, em frente do Masp, em homenagem aos mortos. Foram colocados 19 sacos pretos no asfalto, cobrindo corpos de papel, com a pergunta: “Quem matou 19?” http://g1.globo.com/…/ato-na-paulista-com-19-sacos-pretos-l… #QuemMatou19
Os dois jornalões paulistas continuam minimizando a chacina. A Folha traz um texto com quatro parágrafos curtos sobre a morte de Letícia. Eu contei 143 palavras (incluindo artigos, preposições, tudo). Em estilo seco, tipicamente alheio. Nenhuma contextualização, nenhum perfil. Não sabemos quem foi Letícia. No máximo que estudava em uma escola estadual.
(Imaginem se ela estudasse no Colégio Santa Cruz. Imaginem se ela morasse nos Jardins. Imaginem se fosse filha do governador. Ou de um dono de jornal.)
Como previ ontem, o Estadão deu a notícia em um abre de página, no caderno Metrópole. Com chamada telegráfica de capa. Bem diferente do estardalhaço de ontem após a execução de repórter e cinegrafista nos Estados Unidos, crime que não demanda mais solução: três fotos estouradas, ocupando todas as colunas, quase metade da capa.
A imagem fugidia de Letícia é um dos símbolos da chacina. Ela caminhava pela calçada com uma amiga e, como contou a parentes no hospital, foi baleada, enquanto os assassinos riam. (Eles riam.) Morta, não ganha o respeito dos jornais que mais deveriam estar atentos ao grupo de extermínio formado por policiais paulistas. Filha única, partiu aos 15 anos, entre risos e silêncios.