A internet é uma poderosa ferramenta, muito útil para a luta feminista, gerando debates, informação e articulação de mulheres em todo o mundo. Mas também pode ser uma das fontes mais disseminadora de ataques machistas na rede, de preconceitos e ódio contra as mulheres. Não são poucos os exemplos que podemos encontrar vasculhando sites, blogs e redes sociais como o orkut.
Há poucos dias, em uma lista de comunicação compartilhada, apareceu nova denúncia: uma comunidade do orkut que defende o “estupro terapêutico”, uma medida para “salvar” lésbicas. Junto com ela vinha outras “opções”, e, de acordo com a mensagem enviada “há uma cadeia absurda de comunidades “policial não bate, educa”/ “beleza afro” (com uma loira na foto)/ “mulher tatuada é puta”/ “eu tenho horror a pobre”/ e por aí vai! Tem algo em comum: nessas comunidades tem sempre algum “H.D.B”- homem de bem! E tem um tal de Tabelião Carlos, que modera uma ou outra…”.
A denúncia rodou por aí com muitas pessoas se manifestando, opinando e ajudando. Depois descobrirmos que a tal comunidade não era novidade e órgãos do governo federal, como a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, exigiram providências. No boletim de maio/junho da SPM consta que “o fórum da referida comunidade está repleto de discussões discriminatórias, racistas, machistas e lesbofóbicas. A mais grave, no entanto, demonstra que o preconceito e a intolerância não se bastam em discussões virtuais, chegam à vida real. Em tópico denominado ‘Estamos agindo em Brasília’ contém relato de ações efetivas do grupo. De acordo com depoimento de um ex-integrante, o grupo ia a locais frequentados por homossexuais e atraia uma vítima para uma emboscada. De lá, a levavam à base do grupo, onde a vítima era obrigada a manter relações sexuais com uma pessoa do sexo oposto a fim de ‘corrigir’ sua orientação sexual”.
A denúncia feita pela SMP, no dia 5 de março deste ano, foi enviada à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, do Ministério Público Federal, e ao Diretor Geral da Polícia Federal, para ciência e possíveis providências.
A Coordenadoria do Grupo de Combate aos Crimes Cibernéticos enviou ao Promotor do Ministério Público do Estado de São Paulo sugestão de que a Google Brasil Internet Ltda retirasse do ar a comunidade, mas que a totalidade de seu conteúdo fosse preservado a fim de que, mediante autorização judicial, pudessem ser requeridos os dados de acesso dos proprietários, moderadores e responsáveis por algumas postagens criminosas da comunidade.
Pelo jeito, são ações lentas e a comunidade em questão continua no ar. Há formas de denunciar no próprio orkut, que até agora não se manifestou. Há delegacias especializadas, é possível (como também foi feito) denunciar à Secretaria de Direitos Humanos, mas um dado é bastante importante: segundo o IAB Brasil, os homens representam a maioria dos usuários de internet, com 54% de representatividade.
Então, o caminho mais imediato é empoderar as mulheres a partir das novas tecnologias e travar uma batalha diária na internet, de caça, denúncia e debate sobre o machismo na rede. Até porque, se não barramos no mundo virtual, sem dúvida, o fortalecemos na vida real.