Mãe Beata de Iemanjá, Conceição Evaristo e Evandro Vieira Ouriques falam nesta 2a.f. sobre Lições Africanas Não-violentas para a Igualdade na Diversidade Humana
Auditório da CPM-ECO, Campus da Praia Vermelha (UFRJ)
Segunda 07/04/2008, e em todas as outras segundas de 2008/1, sempre das 11h às 13h.
“Nós só vamos respeitar a voz africana quando nós escutarmos a voz africana que fala dentro do nosso peito e dentro da nossa genética, e graças a este ato não-violento, aprendermos com o exemplo de Martin Luther King, com a ação de Mãe Beata de Iemanjá e de Conceição Evaristo, que são exemplos poderosos de resistência e de ação afirmativas não-violentas no Brasil, dados por uma cultura que sempre foi alvo de opressão e desqualificação”.
Esse é o ponto que o Prof Evandro Vieira Ouriques -coordenador do Curso de Extensão Jornalismo de Políticas Públicas Sociais- aprofundará na palestra Lições Africanas para a Igualdade na Diversidade Humana, que fará juntamente com Mãe Beata de Iemanjá e Conceição Evaristo na próxima segunda-feira, como parte da Semana Martin Luther King, promovida pela Associação Palas Athena, com apoio da UNESCO.
E que lições africanas seriam essas? Para o coordenador do Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência-NETCCON/ECO/UFRJ: “o objetivo é resgatar valores e sistemas ancestrais de comunicação que são usados por esses saberes que podem alavancar as experiências de comunicação. E honrar a questão da matriz africana e da não-violência é um tema que interessa diretamente às políticas públicas sociais”.
O Prof Evandro Ouriques considera que a experiência de comunicação dos povos africanos constitui uma ferramenta social e de relacionamento, e que através de técnicas ancestrais de origem afro é possível lidar com as diferenças. “O que nós precisamos é recuperar com as sociedades ancestrais essa experiência de comunicação. Elas que foram destruídas pelo Ocidente poderoso, vaidoso e falocêntrico têm muito a nos ensinar”, ressaltou.
Mãe Beata de Yemanjá, além de sua indiscutível liderança religiosa e inter-religiosa, “talvez seja no Brasil uma das Mães de Santo que têm a maior liderança histórica em projetos sociais”, assinalou Prof Evandro, ao que soma o fato de ser, como atesta a escritora Conceição Evaristo, uma das mais importantes escritoras afro-brasileiras pois “em seus livros ela resgata a sabedoria ancestral a partir de contos que vêm direto da oralidade que fala dos arquétipos que integram e dão estrutura ao imaginário africano e afro-brasileiro”. Mãe Beata é um dos co-autores do livro Diálogo entre as Civlizações: a Experiência Brasileira, organizado pelo Professor Evandro em 2003 e publicado pela ONU com apoio da UNESCO e da Palas Athena.
Nascida em 20 de janeiro de 1931, em Cachoeira do Paraguaçu no Recôncavo Baiano, filha de Exu e Yemanjá, Beatriz Moreira Costa, Mãe Beata, atua há pelo menos vinte anos em frentes sociais e ações afirmativas, em movimentos negros e de diálogo inter-religioso, pelos direitos humanos, contra a discriminação e a intolerância religiosa, a favor da cultura e da paz, pelo direito à educação e à saúde da população negra.
A Comunidade de Terreiro Ilê Omi Ojú Arô -Casa das Águas dos Olhos de Oxossi- comunidade na qual Beata é a sacerdotisa suprema no bairro de Miguel Couto em Nova Iguaçu, tem hoje 23 anos de atividades. Ao longo de sua história de militância, Mãe Beata já recebeu moção honrosa de Resistência da Cultura, Religião, Cidadania e Dignidade da população Afro-brasileira da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro em 1991, além de ter sido Personalidade de Destaque da Comunidade Negra no mesmo ano, e em maio de 2005, a Medalha de Mérito Cívico Afro-brasileiro pela Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares, em São Paulo.
Em sua Comunidade de Terreiro, já sediou muitos encontros sobre Tradição dos Orixás e Religiões Afro-brasileiras, além de participar em projetos sociais como o Ação e Viver que promoveu fóruns de debates sobre cidadania, e no Projeto Comunidade Solidária capacitando profissionalmente jovens carentes da Baixada Fluminense (1999). Desde 2002, Mãe Beata estabelece parcerias com a Ong Criola, que desenvolve projetos para mulheres negras, e com o Projeto Ató Ire de Saúde dos Terreiros, além de outros movimentos voltados para jovens como o Projeto Acelera Jovem em parceria com o Viva-Rio (2004).
Como líder religiosa, Mãe Beata participa ativamente em discussões sobre questões raciais, sociais e políticas, tendo maior atuação nas questões de gênero, com enfoque principal na mulher negra.
De acordo com o pesquisador e intelectual, Evandro Ouriques, a palestra quer trazer à superfície os valores ancestrais que nos permitem, dentro da diversidade, haver mais espaço não só para essa diversidade, mas também garantir espaço para o entendimento das diferenças. “Para que nós sejamos diferentes temos que reconhecer-nos em que somos iguais”, e questiona: “até que ponto de igualdade nós estamos interessados para que a nossa desigualdade possa vigorar, ou seja até que ponto de igualdade precisamos chegar para não nos matarmos uns aos outros? Existe um conjunto de valores de interseção?” E destaca, “é isso o que garante a vinculação social, o espírito público”.
Evandro também ressaltou que um dos objetivos do programa acadêmico do NETCCON é o de resgatar saberes da diáspora, ou seja, saberes que o Ocidente expulsou, como os hindus, os africanos, os indígenas, os eslavos. No caso do Brasil, “é um espanto sintomático que ainda tenhamos racismo”, comenta indignado o Professor Evandro.
Conceição Evaristo é Mestre em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, e doutoranda em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense-UFF. Ela investiga pontos de diálogo entre a literatura brasileira afro-descendente e as literaturas africanas de língua portuguesa. Desde os anos 1990, a escritora entrou no cenário da literatura ao publicar contos e poemas na série Cadernos Negros, uma antologia editada anualmente pelo Quilombhoje de São Paulo, um grupo de escritores afro-brasileiros reunidos desde 1978. Além de participar de eventos no meio acadêmico sobre literatura afro-brasileira, Conceição Evaristo tem marcado a sua presença nos movimentos sociais, e na luta pelas causas dos afro-descendentes. Conceição Evaristo é autora do romance Ponciá Vicêncio, Belo Horizonte, 2003, com uma 2ª edição em 2005.
Ao falar de lições de igualdade, outro nome do espírito público, o Prof. Evandro finaliza: “É isso o que movimenta o espírito das políticas públicas, a não-violência, ou seja, a ampliação do vigor dos direitos humanos, o respeito ao outro que é nosso irmão, nossa irmã. Estamos, na verdade, interagindo e abrindo-nos para que a matriz africana de nossa cultura nos fale de amor, de verdade, de justiça, de bondade”.
Esta disciplina, oferecida aos alunos da Universidade e à Sociedade em geral, é resultado do convênio entre o Programa Acadêmico do Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência-NETCCON/ECO/UFRJ, coordenado pelo Prof. Evandro Vieira Ouriques, e a Agência de Notícias dos Direitos da Infância-ANDI.
O Programa Acadêmico do NETCCON dedica-se às relações entre a mídia, a ética e a não-violência (no sentido de luta sem violência), tendo em vista o vigor da experiência de comunicação, da auto-construção da cidadania e da responsabilidade socioambiental na Mídia, na Política e nas organizações. Neste sentido o NETCCON criou e vem oferecendo há três anos consecutivos também a disciplina Construção de Estados Mentais Não-violentos na Mídia.
Palestras a serem realizadas em 2008/1:
Semana 6 (14/04): O Paradigma do Desenvolvimento Humano como orientador da cobertura.
Palestrante: Flavia Oliveira (O Globo)
Semana 7 (28/04): Orçamento nacional: As possibilidades de intervenção e orientação para o social.
Palestrante: Leonardo Mello (IBASE)
Semana 8 (05/05): O desafio de aumentar a presença das políticas públicas na grande imprensa.
Palestrante: Bia Barbosa (Intervozes)
Semana 9 (12/05): A cobertura das políticas públicas na área da Educação no Brasil.
Palestrante: Antônio Góis (Folha de S. Paulo)
Semana 10 (19/05): Cobertura de qualidade em meio à violência estrutural: A força política da não-violência e a responsabilidade dos atores sociais e dos jornalistas.
Palestrante: Prof. Evandro Vieira Ouriques (NETCCON.ECO.UFRJ, NEF.PUC.SP)
Semana 11 (26/05): A Questão das Políticas Públicas Sociais e a Mídia Contra-hegemônica.
Palestrante: Paulo Lima (Viração)
Semana 12 (02/06): A Comunicação criada pela Periferia no Rio de Janeiro.
Palestrante: Prof. Augusto Gazir (Observatório de Favelas e ECO.UFRJ)
Semana 13 (09/06): O paradigma dos Direitos da Criança e do Adolescente: A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Palestrante: Wanderlino Nogueira Neto (ABONG)
Semana 14 (16/06): A Mídia e a Questão das Políticas Públicas Sociais no Brasil.
Palestrante: Guilherme Canela (ANDI)
Semana 15 (23/06): O Paradigma da Diversidade Cultural.
Palestrante: Profa. Sílvia Ramos (CESEC)
Semana 16 (30/06): Jornalismo prospectivo e o futuro das políticas públicas sociais como pauta.
Palestrante: Rosa Alegria (NEF-PUC/SP, NETCCON.ECO.UFRJ, Millennium/UNU
Palestras já realizadas em 2008/1:
Semana 1 (10/03): Interesse, Poder e Dádiva: a questão do domínio dos estados mentais e da generosidade na positivização da rede de comunicadores-cidadãos.
Palestrante: Prof. Evandro Vieira Ouriques (NETCCON.ECO.UFRJ, NEF.PUC.SP)
Semana 2 (17/03): A Violência que Acusa a Violência: a degradação de Si e do Outro através da Mídia.
Palestrante: Prof. Michel Misse (NECVU.IFCS.UFRJ)
Semana 3 (24/03): A Abordagem de Temas Sociais junto a Públicos Não-iniciados: o Caso dos Jornais de Grande Circulação e Distribuição Gratuita.
Palestrante: Prof. José Coelho Sobrinho (USP)
Semana 4 (31/03): A desigualdade social no Brasil e os processos de formulação das políticas públicas sociais compensatórias.
Palestrante: Leonardo Mello (IBASE)