Identidade, uma questão semântica?

A visão do antropólogo Gersem Baniwa, coordenador geral da Educação Escolar Indígena, no Ministério da Educação (MEC) levou à reflexão sobre se a proposta de homogeneização das políticas públicas é o caminho a se trilhar, visto que identidade é um conceito ocidental. Ele compôs a mesa, com Manzatti e Marcos Terena.

“Na vivência das comunidades indígenas, não se fala em identidade. Esse é um conceito ocidental. Não há algo mais artificial, do que falar de liderança indígena. Na verdade, “eu” sou liderança para o não-índio”, diz.

Segundo Baniwa, neste sentido, identidade tem a ver com representação. “Por isso, há dificuldade de se trabalhar com política pública, que na verdade, deveria ir à comunidade. Hoje são cerca de 10 mil baniwas no Brasil, Colômbia e Venezuela, e nós nos reconhecemos se eu falar sobre o meu clã, vão me compreender”, explica.

A identificação “povos indígenas” veio depois de décadas. “O que há de semelhança entre as sociedades já reconhecidas, com cosmologias próprias, são os processos históricos que sofreram de dominação e de experiência de vida autônoma”, afirma. Atualmente, nas regiões N e NE, os indígenas já se identificam como parentes e especificamente na região amazônica, há o reconhecimento como ‘povos da floresta’. Em cada lugar do país, são constituídas novos termos de designação.

“Os povos indígenas da Amazônia não aceitam serem denominados como povos tradicionais, apesar de se aliarem em mesmas causas e os grupos de interesse surgem em função dessa relação com o mundo branco”, afirma.

O que é preciso ficar claro, segundo Baniwa, é que a diversidade existe e está pautada no caráter social, religioso e político. Por isso, tratamos de educação Terena, Baniwa distintamente…

Na avaliação de Gersem Baniwa, por sua vez, a globalização tem ajudado, mais do que prejudicado. “Isso acontece pela habilidade dos povos indígenas se apropriarem e adequarem, como na questão da comunicação. Não acredito que haja o risco de as identidades desapareçam”, avalia. Mais um aspecto relevante é que há uma emergência étnica. “Algo sem precedentes, mas ninguém sabe como será daqui por diante. Talvez bateremos a marca de 1 milhão de índios contra os 5 mi, no início da colonização…”.

Diante de todos esses fatores, o antropólogo ‘indígena’ diz que identidade pode ser considerada a base da autodeterminação, como também do auto-controle do governo. “Esses termos ainda inspiram medo, por isso os indígenas preferem falar de autonomia”.

Confira a íntegra do evento em Ocareté-Entremundos www.ocarete.org.br/entremundos

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