Mesmo para quem nunca assistiu o filme “Fuga de Nova York” do célebre diretor de filmes “B” John Carpenter, realizado em 1981, em pleno “reinado” Reagan, em que uma parte da cidade de Nova York foi transformada numa penitenciária de segurança máxima, fica fácil entender a sensação que temos hoje acerca da zona norte da cidade do Rio de Janeiro.
Completamente abandonada, chacoalhada de fábricas fantasmas, com galpões vazios onde se localizavam grandes lojas comerciais, tendo parte desse espaço transformado em moradias de populações trabalhadoras empobrecidas e desempregadas que buscam esses locais como solução para a sua moradia e que dessa forma evitam morar como cabritos no alto do morro, mas com toda sorte de problemas advindos desse tipo de situação, vítimas da miséria social desses tempos de globalização.
Essa configuração urbana que infelizmente não é apenas virtual ou uma “second life” que escolhemos jogar para experimentar os delírios da pobreza e do sofrimento social dos trabalhadores concretiza-se numa violência sem igual, causada pela degradação social, pois as vítimas primeiras reagem e sua reação proporcionaliza-se a violência sofrida com a ausência de um Estado incapaz de prover aos setores populares o mínimo para uma vida digna, mas que provêm a uma pequeníssima parcela da população, credora do setor financeiro, lucros e privilégios aviltantes.
Essa sensação de medo e desconfiança, escandalosa em sua força e poder paralisa os mais diversos espectadores e escreve com dor e sofrimento um dos períodos mais nefastos da história dessa cidade. Entretanto, nada me angustia mais do que o silêncio daqueles que um dia lutaram e estiveram ao lado das populações marginalizadas pobres, nordestinas e negras, hoje ouvidos mocos aos gritos e sussurros dos infelizes.
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