03/05/2010 10:23
Educação ambiental: o saneamento é um elemento básico, por Sucena Shkrada Resk
As discussões que giram em torno da educação ambiental, muitas vezes, perdem de vista um elemento essencial: a pauta do saneamento básico e ambiental. Em março deste ano, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) emitiu o relatório Progress on Sanitation and Drinking-Water: 2010 Update Report, no qual, aponta que 39% da população mundial, que correspondem a cerca de 2,6 bilhões de pessoas, vivem sem instalações sanitárias melhoradas. Isso quer dizer, sem condições de higiene. Com isso, a expectativa de se atingir os Objetivos do Milênio relacionados ao saneamento, até 2015, se torna mais difícil. Esse é o retrato da desigualdade social, que avassala algumass regiões do planeta e as periferias das grandes cidades.
O que é importante se discutir, já que pouco se fala a respeito em EA, é que 17% da população mundial (dados 2008) ainda defecam ao ar livre, principalmente no sul asiático. Não podemos descartar que essa realidade também atinge os rincões latino-americanos e a África. São milhares de pessoas expostas aos riscos de doenças ou que adoecem e até morrem, em decorrência dessa insalubridade. Estima-se que 1,5 milhão de crianças menores de cinco anos morram anualmente em decorrência dessa situação.
Quando voltamos a atenção ao Brasil, não é preciso ir muito longe. É só ver as construções desordenadas nas encostas ou em regiões de vale, sobre os esgotos, onde o resíduos orgânicos se misturam ao reciclável e o chorume emerge, durante as enchentes. Um dia, aqueles trechos foram límpidas nascentes, mananciais e cursos d´água potáveis. Quantas pessoas ainda mantêm poços artesianos bem próximos de fossas sépticas em bairros, por exemplo, de São Paulo.
Tudo isso demonstra o quanto ações preventivas são importantes no curso da educação ambiental. É preciso tirar falsos rótulos de que só as pessoas de baixa renda produzem os danos ao saneamento. O filão de culpa cabe também à classe média e rica. Como os bueiros entopem? Será que o R, do reduzir, não está interligado a esse cenário? E o simples ato de jogar o lixo no lixo?
O relatório ainda registra alguns avanços nos últimos anos consideráveis quanto ao acesso a água potável, mas mesmo assim, cerca de 884 milhões de pessoas não integram o contingente de pessoas beneficiadas. Há um longo caminho a percorrer, para que esses cidadãos reconstituam o mínimo de dignidade, que é um direito universal.
Diante desses dados, é perceptível que o educador socioambiental tem uma tarefa cada vez mais árdua na constituição das agendas 21. Não é por acaso que a Conferência Mundial dos Povos sobre a Mudança Climática, realizada em abril deste ano, em Cochabamba, na Bolívia, ecoou ‘o grito’ de defesa da Pachamama (Mãe Terra). Nos discursos e reivindicações, ficou tão claro, o quanto o saneamento está ligado às mudanças climáticas, ao quadro de fome no mundo…
Quando falam de agricultura orgânica, água limpa e rede de coleta e tratamento de esgoto são princípios implícitos. Como é possível haver qualidade de vida, com extração desenfreada de recursos naturais, que prejudicam os solos e as águas? O projeto da Declaração dos direitos da Mãe Terra, decorrente do encontro, apresenta como algumas das reivindicações, a reafirmação do ‘direito à água como fonte de vida’, ‘direito a estar livre da contaminação e poluição de dejetos tóxicos e radioativos; ‘direito à saúde integral’…
O conceito de saúde integral demonstra que precisamos incentivar na educação socioambiental nos campos formal, não-formal e informal, essa visão holística, em que todos são responsáveis. Enquanto não houver esse sentimento de pertencimento, atitudes não serão renovadas na sociedade, nas empresas e no poder público. O saneamento não só tem de atingir a água/esgoto, como nossas mentes.
Fonte: Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk – www.twitter.com/SucenaSResk