Os trabalhos reunidos por Graciela Natansohn e Fiorencia Rovetto,neste e-book, buscam “caracterizar, examinar e avaliar possibilidades, desafios e problemas que definem hoje o feminismo que se tece entre as fibras óticas e as ondas eletromagnéticas.
São experiências, debates e saberes produzidos por pesquisadoras e ativistas sobre feminismos, ciberfeminismos e internet. O foco é a violência de gênero que não para de crescer e recrudescer na América Latina e no mundo. Além disso, o livro aborda práticas organizativas, de resistência, que também constroem e dinamizam a rede, potencializando estratégias de ação coletiva perante as violências sexistas em todos os âmbitos.
A leitura foi organizada em dois eixos: na primeira parte, um conjunto de textos escritos em contextos muito diferentes confluem em tematizar a habitual violência de gênero que tem mudado de cenário e método, mas não de intensidade.
São abordadas situações no Brasil, México, Chile, Honduras, Colômbia, Argentina, em temas que vão do Ni una Menos à anorexia, articulando tradicionais e novas questões do feminismo que perpassam a comunicação virtual.
Na segunda parte, os diálogos se estendem para os movimentos sociais tecnofeministas: autonomia tecnológica, software e hardware livre e infraestruturas feministas são as palavras-chave dos últimos dois artigos. Enquanto a internet se torna um espaço intensamente vigiado por governos e empresas e onde a violência misógina se desenvolve livremente, alguns grupos da América Latina estão experimentando novas formas de apropriação tecnológica, montando seus próprios servidores, desenvolvendo seus próprios aplicativos, criando redes livres, instalando antenas e tecnologias paralelas.
Experiências autônomas no México, conduzidas por indígenas em Oaxaca, e o exemplo da Kèfir, uma cooperativa transfeminista de tecnologias livres para ativistas, jornalistas e coletivos de defesa dos direitos humanos que se mobilizam pela descolonização da internet, apontam para novos horizontes na comunicação das resistências.
Em um balanço do trabalho, as autoras alertam sobre o necessário olhar interseccional: as questões de raça, classe e gênero são inseparáveis, percebidas como elementos constitutivos do sistema em um mundo hegemonicamente colonizado por ideologias brancas, ocidentais e heterossexuais.