A primeira pessoa que me encorajou e me introduziu no caminho de Dante, foi meu amigo e companheiro, aquele com quem com- partilhei “il pane”, Alípio Viana Freire.
No dia de sua partida trabalhei neste texto, o qual lhe dedico. Até sempre Alípio, que sua presença ainda me sirva de guia tal qual Virgílio, o Mestre de Dante, nos sombrios tempos em que vivemos, onde nos defrontamos com a loba da ganância, com o leão da brutalidade e com a pantera do terror e do fascismo.
Dante Alighieri foi político, poeta, estudioso da filosofia. Quando seus inimigos chegaram ao poder, refugiou-se e viveu no exílio o restante da vida. E no ostracismo escreveu sua obra prima, “A Comédia”, denominada por Boccaccio de “A Divina Comédia”, o maior poema de todos os tempos!
Dante é o homem vivo no reino dos mortos, que leva para lá um coração de homem e que torna profundamente humana a poesia daqueles que já não vivem.
E foi no Inferno de Dante, que também o é terreno, onde surge o Feminino Moderno.
Aquele que nós julgamos ser um dos ápices do poema, seu Canto V. Dante se depara com um casal todo entrelaçado, que é açoitado e embalado pelos ventos mornos, Francesca e Paolo de Rimini.
E será esse Canto que podemos considerar como fundador da essência do moderno sentir feminino!
Francesca de Dante é antes de qualquer coisa uma criação de artista, de gênio, a “primogênita, a primeira mulher viva e verdadeira surgida no horizonte poético dos tempos modernos”, personalidade poética de um ideal cabalmente levado a termo, com todos os conceitos prevalentes na poesia da época: amor, elegância, pudor, pureza e, principalmente, coragem, determinação e gentileza.
“O Amor é para ela força a que não se pode resistir! Uma onipotência e fatalidade que se assenhora de toda a alma e a conduz ao incontrastável, ao inevitável”! Eles jamais poderiam estar num etéreo Paraíso, pois somente no Inferno o que é terrestre, dantesco, o ser humano pode permanece imutável!
Carlos Russo Jr.
Convidamos à leitura de nosso ensaio em: https://www.proust.com.br/post/do-inferno-de-dante-surge-o-moderno-sentir-feminino