O fechamento de bares e proibição de vende de bebidas alcoólicas se tornou o fetiche daqueles que acreditam que questão da violência está simplesmente localizada em determinadas partes dos territórios da Grande Vitória-ES. Ao invés, de pensarmos em estratégias que elevem o estado a regular as interações sociais nessas localidades, fazendo-se mais presente com políticas sociais, policia inteligentes etc, pensamos em privar os pobres de um dos seus principais centros de sociabilidade: os bares e as bebidas.
Para onde irão os freqüentadores dos bares quando do seu fechamento? Será que todos freqüentam os bares são bandidos em potencial? Essas perguntas que devem ser respondidas pelos que estão propondo essa medida. O governo distribuíra entradas grátis para cinemas, teatros e show compensando o fechamento dos bares? A questão dos bares não passa somente como espaço de consumo de bebidas, mas ponto de encontro e sociabilidade, principalmente nas periferias desprovidas equipamentos e serviços coletivos e distantes dos recursos culturais da cidade.
É sabido literatura histórica e sociológica que os bares sempre se apresentaram como espaços onde se resolviam os conflitos sociais e interpessoais vividos no espaço do lar e do trabalho, os jornais antigos estão povoados de crimes realizados em bares. Com seu fechamento tais conflitos não deixaram de existir, somente se deslocaram para outros espaços. O grande problema dos bares na periferia que as medidas de segurança não pretendem resolver é que eles são os únicos espaços de sociabilidade.
Tais medidas como essas, nos remetem a uma grande questão: como a luta contra criminalidade parece estar articulada a suspensão das liberdades civis de determinados grupos sociais. É fato a necessidade de combater o crime, mas isso não deve significar o sitiamento de determinados bairros, já violentados por criminosos e pelos abusos de autoridade determinados grupos de policiais. Estamos diante de um reforço do toque de recolher já imposto pelos criminosos?
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Igor Vitorino da Silva
Historiador
Fechamento de bares e violação de direitos
Penso que o fechamento de bares e a proibição da venda de bebidas alcoólicas representa sim um cerceamento aos direitos individuais. Creio, inclusive, que há por detrás de propostas como essas certo moralismo que estimula como lugar de pai de família somente o lar ou lugares “politicamente corretos” e “seguros”. Ocorre que ao fechar os bares teremos um avanço discriminado das igrejas evangélicas como único espaço de sociabilidade possível para o pobre. Nada contra essa instituição em si, mas penso ser importante observar o forte discurso fundamentalista pela maioria delas sustentado, alimentando preconceitos e acirrando disputas religiosas muito sérias no interior dos bairros, inviabilizando a mobilização coletiva dos indivíduos em favor de direitos concretos e não transcendentais. Além disso, está claro que políticas como essas de cerceamento envolvem sim um processo gradativo de restrição das liberdades. Quanto faltará para que determinem horários de recolhimento semelhantes aos toques de recolher que as ditadurtas emplementam? Aliás, a mídia já trabalha isso subrepticiamente quando veicula o tema violência de uma maneira indiscriminda e irreflexiva, alimentando um sentimento de temor que leva as pessoas a se aprisionarem em suas próprias casas e esperarem passivamente a atuação do poder público. Creio que por detrás de medidas como essa sugerida pelo poder público está muito mais do que a suposta preocupação com o aumento da violência.
Bruno Moura
8807-3406